ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Jane Austen é pop: o papel do leitor e do espectador na Austen Mania |
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Autor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
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Resumo Expandido | O cinema adapta Jane Austen desde 1938. Nos últimos quinze anos essas produções cinematográficas se tornaram consideravelmente mais volumosas.
Neste trabalho busco razões para a relevância atual dessas obras, considerando público-alvo, mídia, produtor e espectador, analisando as causas e as consequências do fenômeno contemporâneo de adaptação e apropriação da autora. Com isso pretendo entender o surgimento de um leitor que eu chamarei de novo-leitor: aquele que já chega à obra impregnado de informações cinematográficas. Proponho que a leitura que o espectador cinematográfico fará do romance, se ele o fizer, será repleta de imagens carregadas por ele da tela para a página. E ainda, que a obra de Jane Austen está em constante construção devido a esse movimento feito pelo espectador/leitor. Mesmo não conhecendo os livros no original, não lido nenhuma das obras, uma pessoa é capaz de dizer do que se tratam; ou, talvez, descrever as paisagens ou os costumes que ela retratou. Esse imaginário que permite o conhecimento da sua obra mesmo sem conexão direta do público com os romances foi em grande parte criado pelo cinema. John Ellis diz que, quando lidamos com cânones “A adaptação lida com a memória do romance, uma memória que pode ser derivada da leitura, ou, como é mais comum com um clássico da literatura, uma memória cultural circulada.” (Ellis, 1982) Neste caso específico, tratando de quase um século de adaptações, devemos considerar a possibilidade de o leitor ser conhecedor da obra produzida pela indústria do cinema e da televisão, aquela que já foi lida anteriormente pelo adaptador. Então é possível supor que, quando abrimos um livro hoje, estamos impregnados de informações inexistentes nas páginas e isso irá conduzir nossa interpretação. E essa interpretação, subjetiva e repleta de imagens cinematográficas, é parte integrante do que conhecemos como Jane Austen hoje e irá construir o que chamaremos de Jane Austen no futuro. A esse respeito Hutcheon diz que: “Há também outra possibilidade: o nosso interesse surge, na verdade nós podemos ler ou ver aquele chamado original após termos passado pela experiência da adaptação, desafiando, assim, a autoridade de qualquer noção de prioridade. Múltiplas versões existem lateralmente, não verticalmente.” (Hutcheon, 2006) Atenta a essa nova perspectiva sobre Austen, Jeanne Kiefer publicou, em 2008, Anatomia de uma janeite, uma pesquisa que fez em busca do perfil do fã contemporâneo de Jane Austen. Sobre como elas (98% dos 4.501 entrevistados eram mulheres) entraram em contato com Jane Austen: 30% começaram lendo um dos romances contra 26% que entraram em contato através do cinema e televisão. Kiefer diz também que, quanto mais jovens os entrevistados, maior a proporção da iniciação através do audiovisual. Sobre isso Steenkamp diz que: Como exemplo, apresento uma parente que é uma mulher bem-sucedida e inteligente. Após ver a versão da BBC de 1995 de Orgulho e Preconceito, uma grande quantidade de vezes, ela se declarou viciada e animadamente alugou The Jane Austen Book Club, Becoming Jane e a versão da Keira Knightley de Orgulho e Preconceito [...]. Apesar de não demonstrar nenhum interesse em ler Orgulho e Preconceito, tendo, brevemente, experimentado a leitura uma vez, ela ainda se refere ao texto como o melhor livro que nunca leu. (Steenkamp, 2009) Esse trecho ilustra a diferença entre os leitores de Jane Austen, suas origens (seja através da literatura ou através do cinema) e o limite de seus interesses. Além disso, observo o movimento que esse mesmo novo-leitor fará, deixando de ser consumidor e contribuindo para a produtividade, participando ativamente desse fenômeno, produzindo conteúdo e, por vezes, se afirmando como co-autor da escritora, como na caso do recente Orgulho e Preconceito e Zumbis. |
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Bibliografia | BAZIN, André. Por um cinema impuro. São Paulo: Brasiliense, 1991.
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