ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Momentos-frame: Hélio Oiticica entre o cinema e a fotografia |
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Autor | Beatriz Morgado de Queiroz |
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Resumo Expandido | Em seus primeiros anos de vida, o cinema experimentou diversas configurações espaciais, temporais, discursivas, tecnológicas e espectatoriais. O surgimento de uma tecnologia para filmar e projetar imagens não determinou, portanto, o modelo que se tornou hegemônico no cinema. Não devemos cair na armadilha da “história” que naturaliza a Forma Cinema (André Parente) como única e imutável. Lançar-se às variações e rupturas a esse modelo, pressupõe o entendimento do cinema como um dispositivo complexo que compreende uma multiplicidade de configurações possíveis. A noção de dispositivo que baseia grande parte da heterogênea produção audiovisual contemporânea, fazendo emergir expressões como cinema expandido, cinema de galeria, cinema de artista e vídeo-instalação, é compatível com o interesse no cinema como “instrumento” proposto pelo artista brasileiro Hélio Oiticica (1937-1980) há quase quarenta anos atrás.
Figura central da vanguarda brasileira dos anos 60, passista da Mangueira, notório inventor dos parangolés, figura chave do Neoconcretismo e da Tropicália, Hélio Oiticica jamais foi reconhecido em vida por suas experimentações com a linguagem-cinema, algumas delas nomeadas por ele como quasi-cinema. Essas experimentações eram acompanhadas de uma intensa reflexão acerca do cinema, entre cartas, escritos, anotações e críticas de filmes, onde formulava instrumentos conceituais para pensar sua obra e elegia seus cineastas prediletos. Interessados nas contribuições desse artista ao campo híbrido do cinema e da arte, propomos aqui uma discussão a partir de suas experimentações com o dispositivo cinema posicionado na linha orgânica com a fotografia. Para analisar essas relações, nos debruçaremos sobre o conceito de momentos-frame, formulado pelo artista durante o desenvolvimento de seu programa in progress – Cosmococa (NY, 1973). Investigaremos de que forma a fotografia foi utilizada neste programa para questionar a linearidade da imagem cinematográfica, servindo de instrumento para a construção de um ambiente-performance. Seu quasi-cinema retoma a natureza primordial do cinema ao privilegiar o trabalho com imagens fixas (especialmente no formato de slides). Entretanto, enquanto na Forma Cinema as fotografias são carregadas em máquinas especiais que almejam à ilusão de movimento, em suas projeções, as mesmas, apresentadas como momentos-frame, acentuam sua dimensão estática mantendo-se abertas a uma nova relação entre as imagens projetadas simultaneamente e entre imagens e espectador. A negação do cinema-espetáculo quebra qualquer possibilidade de estabelecer relações anteriores de causalidade entre as imagens, recusando a montagem linear. A noção de momentos-frame será pensada enquanto uma das estratégias não narrativas do “cinema” inventado por Oiticica, onde a fotografia é investigada em sua dimensão não discursiva, como acontecimento. Demonstraremos como a linguagem fragmentada em momentos-frame já é identifica pelo artista nos episódios do filme Mangue-Bangue (1973) de Neville D’Almeida e apresentaremos as tentativas de concreção deste conceito nas Cosmococas-programa in progress (CCs). Além dos cinco primeiros blocos de experimentos de CCs realizados junto com Neville D’Almeida e apenas recentemente exibidos publicamente, Oiticica ainda propôs mais quatro blocos sem a participação deste, ainda inéditos. Optamos por apresentar e discutir na SOCINE 2012 a estrutura em mosaico que dá corpo a estes últimos blocos devido a pouca visibilidade destas obras. O artista chega a realizar CC6 Coke Head´s Soup, em parceria com Thomas Valentim, e CC8 Mr. D or D of Dado, além de propor CC7 Shoot the nail file para Guy Brett executar em Londres e CC9 COCAOCULTA Renô Gone para Carlos Vergara realizar no Rio de Janeiro, que nunca chegaram a ser concretizados. |
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Bibliografia | CANONGIA, Lígia. Quase Cinema - Cinema de Artista no Brasil 1970/80. Rio de Janeiro: Ed. Funarte, 1981.
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