ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A montagem figurativa em Paranoid Park |
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Autor | Milton do Prado Franco Neto |
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Resumo Expandido | Gus Van Saint é um dos diretores de trajetória mais rica do cinema americano recente. Sua obra vai do filme independente mais radical ao diálogo franco com o grande público. Depois de uma fase radical que vai de Elefante (2003) a Last days (2005), um filme como Paranoid Park (2007) parece ser, numa leitura mais apressada, uma concessão baseada numa suposta simplificação formal. Uma leitura mais atenta do filme pode, no entanto, revelar potenciais de significação muito mais complexos que as leituras apressadas demonstram.
Comecemos pela questão: sobre o que seria o filme? Sobre um adolescente em crise que presencia (ou tem participação em um crime)? Uma conclusão possível, mas talvez seja mais interessante perguntar como essa participação é apresentada pelo filme; ou como a montagem de Paranoid Park agencia as informações narrativas e afetivas do personagem, criando um fluxo próprio de dúvidas e indagações que ultrapassa subjetividades do narrador e do espectador. A montagem é um aspecto cinematográfico complexo, sendo ao mesmo tempo uma fase de escritura do filme (com uma função técnica bastante clara) e um componente da concepção narrativa e estética do mesmo (nesse sentido, estando presente desde o roteiro). Essa dupla natureza deve ser sempre levada em conta se quisermos enxergar os potenciais expressivos da montagem. Estudos recentes de análise figurativa possibilitam uma nova maneira de se abordar a montagem, possibilitando novos voos interpretativos de certos filmes (ou de certas cenas), sem deixar de se referir ao texto fílmico. Nem hermenêutica, nem semiótica, embora bebendo eventualmente dessas fontes, a análise figurativa se apresenta como um campo aberto ainda a ser explorado em sua plenitude. A apresentação irá se servir de correntes de análise figurativa vindas tanto da França (principalmente na obra de Nicole Brenez) como da America do Norte (especialmente de Michel Lefebvre). Brenez, em seu livro De la figure en général et du corps en particulier, propõe em um capítulo a análise da montagem figurativa de alguns filmes, atingindo resultados surpreendentes principalmente na sua abordagem de The killing of a chinese bookie (1976), de John Cassavetes. Contrapondo a liberdade ensaística de Brenez, Martin Lefebvre propõe um caminho mais científico, derivado da semiótica (embora não restrito a esta) e dialogando com estudos de recepção. Essas duas tendências servirão para construirmos nossa própria análise de uma sequência específica de Paranoid Park. É nela que vemos ser disparado o suposto flashback que revela o momento do crime, cruzando três tempos: o presente onde o narrador tenta escrever sua história, um passado mais constante onde o personagem é desenvolvido e um passado mais remoto envolto em brumas e incertezas. É pela maneira como esses tempos se articulam e se revelam que, possibilidades interpretativas, se mostram e se sobrepõem à narrativa principal. Não há contradição nessa ação: a interpretação contraria ao que o filme “conta” não exclui essa possibilidade, apenas trabalha a polissemia instigada pela montagem. Nesse sentido, o recurso a conceitos de narratologia são essenciais, principalmente os desenvolvidos por Gerard Genette. Um filme como Paranoid Park é um bom exemplo como o cinema contemporâneo utiliza recursos poéticos de montagem para multiplicar suas camadas de compreensão. Proponho nessa apresentação uma via de mão dupla: servir-se do filme para entender um método de análise e vice-versa, para no final lançar algumas questões: até que ponto a análise figurativa pode ser auferida? Ela pode existir como teoria ou apenas como prática de análise? |
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Bibliografia | ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
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