ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Representação, acontecimento e experiência: Kiarostami e Ahlam Shibli |
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Autor | Maria Cristina Miranda da Silva |
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Resumo Expandido | Neste estudo objetivamos estabelecer um diálogo entre a obra do cineasta iraniano Abbas Kiarostami e da fotógrafa palestina Ahlam Shibli, desenvolvendo uma reflexão a partir da concepção de ‘representação e acontecimento’ apresentada por Jean-Claude Bernadet (2004) e do conceito de ‘experiência’ em Walter Benjamin (memória, esquecimento, tradição, transmissão etc.).
Da obra de Kiarostami nos detemos, em especial, nos filmes da trilogia Où est la maison de mon ami (1987), Et la vie continue... (1992) e Au travers des oliviers (1994). De Ahlam Shibli, serão consideradas especialmente as séries fotográficas Horse race in Jericho (1997), Wadi Saleib in nine volumes (1996-1998), Unrecognised (1999-2000), Peace and Love (2000) e Self-portrait (2000). Embora os filmes de Kiarostami possuam uma aparência ‘documentária’, Bernadet (2004:141) ressalta que “seus filmes são todos resultado de manipulações”. O que “nos parece espontâneo, fruto de uma relação imediata com a realidade (...) é de fato resultado de uma construção”: são significações construídas. Faz parte dessa composição, acrescenta o autor, disfarçar essa construção, provocando a referida ilusão da não construção. O “plano do morro com o caminho em zigue-zague de Onde fica a casa do meu amigo? era a reconstrução de uma imagem resgatada em sua memória.” Uma “reconstituição” de uma cena vivida anteriormente (BERNADET, 2004:143). No ensaio Caminhos de Kiarostami, Bernadet (2004) utiliza a figura básica da poética de Kiarostami – as reflexões sobre a ideia de caminho – para falar desta ‘construção’ do real, no resgate de um passado, de uma memória, e de sua atualização no presente – representação e acontecimento, “as duas coisas ao mesmo tempo, sem ser nem uma nem outra”, afirma o autor. Encontramos no trabalho da fotógrafa Ahlam Shibli questões semelhantes, embora com outros vieses que podem dialogar com a filmografia de Kiarostami. Descendente dos beduínos, que sofreram desde os anos 60 sucessivas expropriações de suas terras e ‘realocamentos’ feitos pelo governo de Israel de forma unilateral, Shibli retrata, de forma direta, momentos do cotidiano, mesclando passado e presente. Sua obra tem a característica de traçar ‘caminhos’ (sejam visuais ou espaciais) organizando linhas narrativas. Suas fotos são sempre apresentadas em conjuntos organizados em uma linha narrativa não linear temporalmente. Conforme Boullata (2003), Shibli captura “a visão de um momento que não é nem passado nem presente, que não é de "aqui" nem de "lá". (...) Em vez disso, como um narrador que escolhe cuidadosamente as palavras e pausas para transmitir o que está gravado na memória, ela passa por toda a história em sua mente antes (...)”. Em testemunho sobre um de seus trabalhos, Wadi al-Saleib (1999) – uma série de nove cadernos de fotografias, Ahlam Shibli afirma: “In those memories, I staged and placed people in the present that create a story with the inspiration of the place. Photographs that are an awareness of memory, based on the resident« of the place. the place itself; its being and its special smells”. No diálogo entre passado e presente, na obra de Kiarostami e Shibli, buscamos no conceito de experiência de Benjamin (1994) o estabelecimento de relações temporais, histórico-sociais e afetivas entre as obras. A investigação desenvolve, nesse sentido, uma reflexão acerca das possíveis aproximações e caminhos, um resgate do passado atualizado no presente. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. ensaios sobre literatura e história da cultura. – 7. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994.
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