ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O cinema desabrigado |
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Autor | César Geraldo Guimarães |
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Resumo Expandido | Ao seguir o fio da questão que este seminário extraiu da intervenção de Eduardo Escorel na Mostra de Tiradentes de 2012 – posteriormente publicada com o título de “Desabamento e batuque” – quando o crítico e cineasta caracterizou o cinema no qual ele e sua geração se engajaram, como uma casa destelhada e ameaçada pelo desastre, gostaríamos de inverter livremente a proposição de uma “selvagem taxonomia dos processos de constituição dos filmes pelas casas”, como sugeriu Ilana Feldman naquela ocasião, e imaginar um conjunto possível de modalidades de constituição das casas pelos filmes no contexto da produção brasileira contemporânea. Se a metáfora da casa evoca não apenas filiações e pertencimentos, mas também – coisa terrível – disputas e desavenças, patrimônios resguardados ou dilapidados, gostaríamos, ainda assim, de tomá-la como possibilidade de pensar um viver em comum que se não se faça sob a figura do Um (Mondzain, 2009); casa feita de multiplicidades, destituída de um ponto unívoco de identificação, exposta às forças da vizinhança que a atravessam. Nem uma casa defendida, nem, muito menos, cerceada, e sim, aberta ao exterior, feita de contornos fugidios.
Sem que ainda saibamos qual nome dar a essa casa, coabitada por muitos (mas sem fusão), parece-nos que alguns filmes recentes, cuja escritura se faz em contiguidade com o mundo vivido e com os espaços habitados no cotidiano – como escreveram Cláudia Mesquita e André Brasil a respeito de Brasília Formosa e O céu sobre os ombros – traduzem a experiência histórica de nosso tempo sob novas formas: presença de atores não profissionais (que carregam consigo vestígios documentais sob a pele dos personagens), permeabilidade entre a dimensão documentária e ficcional, atravessamento da experiência subjetiva pelas forças que conformam os espaços urbanos, desestabilização das identidades, exploração dos campos de expressão sensível contidos nas práticas da vida ordinária, criação de formas de comunicação entre a domus e o espaço público etc. A presença de tais recursos expressivos na mise en scène dos filmes permitem, quem sabe, a invenção da comunidade como exposição das singularidades de que é feita a um fora que vem quebrar todo desejo de fechamento e de auto-suficiência (Nancy, 2004). Para testar o alcance teórico e analítico desta hipótese de trabalho, vamos nos deter em dois filmes que, donos de estilísticas distintas, abordam a experiência subjetiva em relação com o espaço urbano e com os afectos e perceptos (Deleuze e Guattari,1992) que ele abriga: O céu sobre os ombros (Sérgio Borges) e Transeunte (Eryk Rocha). |
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Bibliografia | BRASIL, André; MESQUITA, Cláudia. O meio bebeu o fim, como o mata-borrão bebe a tinta – Notas sobre O céu sobre os ombros e Avenida Brasília Formosa. (Inédito).
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