ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O acaso na obra de Cao Guimarães: gambiarras expandidas |
|
Autor | Cássia Takahashi Hosni |
|
Resumo Expandido | Desde a série fotográfica Gambiarras, o cineasta e artista visual Cao Guimarães adota a “gambiarra” como conceito norteador de seus trabalhos, e delineia a máxima que estará presente na formulação e no processo de muitos filmes: É se perdendo que a gente encontra. A gambiarra, em princípio o deslocamento da função oficial de um objeto/material para outras finalidades, é vista de modo mais amplo pelo artista. Torna-se um potente contraponto aos guias de turismo, bulas e manuais de instrução, que funcionam como procedimentos para um resultado pré-estabelecido. Por meio dela, Guimarães opta por romper com o que já é dado de imediato, permitindo que o acaso seja determinante, coautor de suas obras.
As mais de cem fotografias que compõem a série Gambiarras, não são fruto apenas de uma ideia colocada em ação, mas sim, segundo o artista, resultados de um processo, de uma série de fatores que permitiram a elaboração da coleção. Dentre eles, o interesse pela idéia de precariedade e, o olhar distanciado de alguém que, depois de muito viajar, torna-se capaz de compreender sob outra ótica a criatividade que o brasileiro possui de reinventar-se para sobreviver. Guimarães entende que o próprio conceito de gambiarra, como algo que extravasa a ideia de objeto ou engenhoca, manifesta-se em “gestos, ações, costumes, pensamentos, culminando na própria ideia de existência”. Trata-se de um conceito que está sempre em processo de mutação e ampliação, tornando-se uma manifestação do estar-no-mundo. A partir dessas inquietações, em suas viagens, Cao passa a adotar um método de trabalho próprio, um outro tipo de percurso nos lugares desconhecidos, diferente do turismo usual. Caminha pelos locais, sem mapas, guias, ou pesquisas anteriores, deixando que o acaso e o olhar momentâneo sejam determinantes. As longas caminhadas permitem a criação da máxima, praticada ainda hoje, de perder-se para se encontrar. Essa dinâmica de perdas e encontros permitiu que longas e curta-metragens fossem produzidos sem um roteiro ou uma fórmula pré-determinada. Equipes pequenas, em consonância com esse tipo de pensamento, permitem a produção dos filmes que se delineiam inesperadamente como entidades que vão se manifestando aos poucos, no ritmo dos seus processos de descobertas. No filme Acidente, realizado em parceria com Pablo Lobato, a ideia inicial era, a partir de um poema, evocar a história dos nomes de cidades mineiras. Após os primeiros experimentos, porém, viu-se que era mais interessante chegar nas cidades e só então ver o que acontecia. Observaram, então, como a ação dos moradores incidia de modo determinante sobre alguns objetos que se espalhavam pelas cidades. Notaram, porém, que não eram apenas as pessoas que interferiam nos objetos: era como se os objetos, por sua vez, estivessem aguardando que alguém alterasse seu estado inicial. O ato de caminhar, processo de imersão num pensamento fluido, observador e movente, torna-se para artista um convite ao acaso, um gesto de abertura para que algo inesperado seja encontrado. |
|
Bibliografia | CENTRO de Arte de Burgos. Cao Guimarães. Burgos: Ricardo Sardenberg, 2007.
|