ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Expressionismo caipira, conceito de Sganzerla, crítico de cinema |
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Autor | Rubens Luis Ribeiro Machado Júnior |
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Resumo Expandido | Sganzerla debutou bem precocemente como crítico, ainda aos 17 anos. No Suplemento Literário d'O Estado de S. Paulo, viria a desempenhar um papel discreto, porém sistemático, de intérprete e defensor do Cinema Novo, um tanto solitário na imprensa paulista. Além de importantes para nos ajudar a elucidar os seus tão provocantes filmes, seus artigos também devem contribuir para a reflexão sobre o cinema moderno no país. Em dois artigos de 1965 (“Filmar São Paulo” I e II), cunhava um conceito sugestivo para caracterizar o marasmo de vicissitudes estéticas que acometia o cinema brasileiro: “expressionismo caipira”. Mais especificamente ele tratava de um panorama histórico do cinema paulista para construir um pano de fundo que explicasse a novidade do advento, o impacto então causado por São Paulo S. A.
É bem certo que a fenomenologia existencialista já marcava o pensamento de um ensaísta como André Bazin, a referência crítica primordial de Sganzerla. Têm clara inspiração baziniana algumas de suas intuições, principais ou secundárias. Um exemplo disso seria o mote do parentesco do Cinema com o Barroco. É muito rico o influxo destas concepções realistas junto à problemática do caráter brasileiro, de que o autor sugere por vezes ter em conta. Não seria sintomática a sua incorporação à poética moderna, com alguma ênfase, de uma dada integração do ingênuo e do espontâneo? Fértil no embate com os filmes, sobretudo os nacionais, os artigos de Sganzerla deixam claro que respirava em sua juventude cinéfila de um pleno cosmopolitismo paulistano: sua academia eram as sessões da Cinemateca Brasileira, um pouco como na germinação da Nouvelle Vague a partir das sessões da Cinemateca Francesa. A desigualdade porém destes processos tem nele uma percepção prodigiosa. Sua crítica de São Paulo S. A. observa que o filme, “além de reunir a cosmologia local vem redimir esta capital e sua cinematografia”, exigindo do cinema paulista “revisões críticas do passado”. Para Sganzerla, o que marcava “o famoso estilo do cinema paulista, desagradável e indestrutível”, e no qual “pouco evoluiu-se de Moral em concordata (1959) a Noite vazia (1964), de Rebelião em Vila Rica (1958) a O pagador de promessas (1962)”, seria um “mesmo moralismo fácil, a desvalorização e o desinteresse do ator diante de personagens postiços, uma movimentação pesada e amorfa que encontra ascendências no mais deselegante expressionismo norte-americano.” Esta espécie de expressividade inexpressiva corresponderia ao “mais autêntico provincianismo, e também o mais ingênuo, precisamente aquele que ignora que o seja.” Esse traço persistente no cinema brasileiro “não encontra lugar somente nas realizações de Mazzaropi ou de Lima Barreto. Vai além; principalmente em obras que pretendem ser ‘eternas e universais’, quando se revela mais desastroso. (...) Sabe-se o quanto é típico do provincianismo imitar estilos metropolitanos.” O cinema que se acostumou fazer na capital paulista vivia, “de experiências já ultrapassadas do cinema mundial, acrescidas de uma última ingenuidade: a convicção da seriedade.” Certa mania universalizante da pesada seriedade acadêmica desta estética, para além da fotografia e da montagem, “compromete a estrutura interna do filme, tratamento de personagens, soluções de conflitos, desdobramento de situações”; e dada “indigência material” seria não só anacrônica dos nossos estúdios bem como do tratamento melodramático “ que na época do expressionismo alemão revelava-se eficaz”. Para o crítico revelam-se ainda os mesmos vícios estéticos, mesmo no retrospecto das persistentes tentativas de modernização do cinema paulista, ao se tentar escapar das “velhas adjetivações formais” e da “claustromania estetizante” mesmo que com alguma híbrida inclusão da “problemática social, até então estranha ao nosso cinema, chegando a adotar lente zoom e câmera na mão”. Paradoxalmente a ensaística contemporânea permitiria caracterizar o próprio filme de Person nos termos do expressionismo. |
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Bibliografia | EISNER, L. A tela demoníaca. Rio: Paz e Terra, 1985.
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