ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | ... E Fred Astaire não veio – o cinema brasileiro e Hollywood nos anos trinta |
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Autor | Mauricio Reinaldo Gonçalves |
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Resumo Expandido | Em seus quase cem anos de existência, o cinema de narrativa clássica norte-americano, predominantemente produzido em Hollywood, notabilizou-se por veicular o que ficou conhecido mundialmente, no século XX, como o American wayoflife. Primeiramente destinadas a seu público interno, não demorou para que as mensagens enaltecedoras do modo de vida norte-americano, presentes nos filmes de Hollywood, ganhassem o mundo. O processo de domínio dos mercados mundiais por esse cinema tornou inevitável a disseminação global dessas mensagens, e desse modo específico de construção de narrativas fílmicas.
Os cinemas nacionais passaram a viver, mundialmente, a necessidade constante de escolher entre trilhar um caminho de negação desse tipo de estruturação narrativa (a clássica), e de toda a ideologia por ela veiculada, ou perseguir o sonho de reproduzir (imitar) esse tipo de cinema e, consequentemente, dar voz – também nas produções nacionais – a esse modo de condução da vida e de visão de mundo. No cinema brasileiro não foi diferente. Desde muito cedo, em sua história, passou-se a discutir a necessidade de copiarmos o cinema hollywoodiano para fazermos “bom cinema” ou exercitarmos experiências alternativas de construção narrativa a fim de constituirmos um verdadeiro cinema brasileiro, ou de mais adequadamente falarmos cinematograficamente de nossa realidade. Interessa a esta comunicação discutir as tentativas de “imitação” do cinema hollywoodiano levadas a cabo pelo nosso cinema na década de trinta, mais notadamente, pelas produções da Cinédia – considerando este empreendimento como uma tentativa de implantação, no Brasil, de um estúdio no estilo hollywoodiano de produção, e também sua afinidade (e ligação) com o pensamento desenvolvido pela revista Cinearte que, desde a década anterior, defendia abertamente os esforços de mimetização dos filmes hollywoodianos pela produção nacional. Mais do que evidenciar essa imitação, interessa-nos observar essa produção a partir da constatação de Paulo Emílio Sales Gomes (1996, p.90) de “nossa incompetência criativa em copiar”. Pretende-se pensar essa produção como um processo híbrido de construção de um produto cultural distinto daquele que se pretendia copiar. E a partir da criatividade surgida de nossa incompetência em copiar, constatar a construção de um discurso que, ao mesmo tempo em que reverberava o modo de viver dos norte-americanos, explicitava o modo brasileiro de levar a vida, constituindo discursos de identidade nacional. Esta comunicação se concentrará na análise do filme Romance proibido, produção da Cinédia dirigida por Adhemar Gonzaga, entre 1939 e 1944. Nele, podemos observar o esforço de uma construção diegética e de miseenscene que remetem às produções hollywoodianas, mas ao mesmo tempo, é possível encontrar elementos que falam diretamente à cultura e à identidade brasileiras. Como contraponto, trabalharemos com os filmes A mulher que soube amar, dirigido por George Stevens e O picolino, dirigido por Mark Sandrich, ambos de 1935. Além das reflexões desenvolvidos por Paulo Emílio Sales Gomes em seu texto clássico Cinema: trajetória no subdesenvolvimento, utilizaremos também os conceitos de hibridismo e multiculturalismo desenvolvidos por Robert Stam e Ella Shohat em Crítica da imagem eurocêntrica, identidade cultural descentrada como colocado por Stuart Hall em Identidade Cultural na pós-modernidade e identidade nacional, como Benedict Anderson o desenvolve em sua obra Comunidades imaginadas. |
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Bibliografia | ANDERSON, Benedict. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1989.
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