ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | SHOT BY BANG - FOTOGRAFIA: IMAGEM EM MOVIMENTO |
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Autor | Greice Cohn |
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Resumo Expandido | Ana Vitória Mussi trabalha, desde os anos 1960, com a diversidade e a superposição de técnicas. Pertencente a um grupo de artistas pioneiros no país a explorar a fotografia em seu campo ampliado, Mussi pensa a condição da imagem no mundo contemporâneo e nossa submissão a seus poderes, refletindo sobre suas potências e fantasmagorias (FLORIDO, 2012). A instalação Bang tem quatro minutos de duração, o vídeo como suporte, e é composta por quatro projeções em três paredes. As imagens apresentam fotografias de filmes de guerra ficcionais e documentários (Olympia, 1936 e O Triunfo da Vontade, 1935 - L.Riefenstahl; Pearl Harbor, 2001 - M.Bay; Tora! Tora! Tora!, 1970 - R.Fleischer; O Mais Longo dos Dias, 1962 - D.F. Zanuck , K. Annakin, A. Marton, B. Wicki; O Choque Final, Documentário coleção Guerras: Segunda Guerra Mundial - CC&C Louis Vaudeville apresenta; Raposa do Deserto, 1951 - H.Hathaway) e de situações reais de guerrilha urbana (Frames UPP Complexo do Alemão, RJ – Globo Comunicações e Participações S.A.), todas fotografadas da televisão. Bang é constituída por “imagens de imagens” (ROUILLÉ, 2009, p.144). Na pista sonora, a música My Baby Shot Me Down, do CD Tarantino Experience, soa na voz de Nancy Sinatra. Refletindo sobre a espetacularização da violência, Mussi recorre, nesse trabalho, ao exercício de re-representação já presente em obras anteriores, mas a utilização de imagens-documentos de memória coletiva e sua ressignificação de forma poética, em Bang, provocam novos olhares sobre o já visto.
Ao trabalhar “um aparelho eletrônico no seu vir-a-ser fotográfico” (HERKENHOFF, 1982), Mussi deixa claro que sua investigação é sobre os modos de exposição e visibilidade da guerra e sua espetacularização na história recente: o que relaciona a imagem à violência e a violência à imagem, o que aproxima o homo videns do homo belicus (FLÓRIDO, 2012), e não sobre a guerra em si mesma. Sua orquestração nos insere numa complexa triangulação de olhares, entre as máquinas de guerra e as máquinas de imagem (câmeras, binóculos, celulares), na qual a aproximação dos dois gestos de atirar (to shoot significa atirar, em inglês, e é usado também para filmar ou gravar uma imagem) é permeada pela suavidade e redenção do amor (FLÓRIDO, 2012). As relações entre cinema, fotografia e artes plásticas se intensificam cada vez mais e várias denominações - cinema de museu, cinema expandido, cinema de exposição, (DUBOIS, 2009; PARENTE, 2012) - se referem às obras que misturam esses três campos, complexificando o espaço-tempo da imagem numa série de hibridizações que mesclam a mobilidade com a imobilidade (PARENTE, 2012, p.122). Percebemos em Bang que “o movimento, assim como a imobilidade, nem sempre está onde se crê” (DUBOIS, 2009, p.88). Ao fotografar filmes, capturando imagens de outra imagem-tempo, Mussi paralisa o que fora fluxo e o reanima na sua própria estagnação. Realçando o instante recortado e fazendo o filme retornar à sua condição fotográfica, a artista revela o fragmento destacado como “um salto possível para fora do tempo” (FERREIRA, 1997), remetendo com essa reversibilidade ao que Dubois (2009, p.89) identifica como “algo intensivo, que excede o domínio das fotos-objeto e das obras-imagens para se engajar no caminho dos processos e das modalidades”, como um estado de imagem. Se o mundo já foi filmado e espetacularizado, sendo agora preciso transformá-lo, como defende Debord (1973), acreditamos que Bang se apresenta como uma possibilidade de transformação, pois essa videoinstalação não põe apenas a fotografia em movimento, mas também os espectadores e sua percepção. Eisenstein, mestre e pioneiro do cinema de montagem, já dizia que “a tarefa do cinema é proporcionar munição ao espectador” (1990). Bang, bang, bang. Tiro certeiro da pedagogia da montagem. |
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Bibliografia | DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Filme escrito, dirigido e narrado por
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