ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A vida e a morte: imagens a cores do Terceiro Reich e do Holocausto |
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Autor | Isabel Anderson Ferreira da Silva |
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Resumo Expandido | Noite e Neblina (1955) é o renomado documentário francês dirigido por Alain Resnais, um dos mestres da Nouvelle Vague. Muito abordado na área acadêmica, ele se tornou referência dento de um campo documental conhecido como antinazista, sendo considerado um divisor de águas por proporcionar uma quebra no silêncio que havia sobre o tema do Holocausto no cinema e, principalmente, sobre a crueldade na logística dos campos de concentração nazistas. O documentário é composto, em sua maioria, por imagens de arquivo fornecidas através de parcerias e trabalho em conjunto com a Réseau, um grupo francês que era responsável pela realização de projetos sociais.
Já o documentário Suástica, do diretor franco-australiano Philippe Mora, foi produzido e lançado na Inglaterra, em 1973. Trata-se de um longa-metragem de 95 minutos inteiramente compilado através de imagens de arquivo, cujo material provém de empresas e institutos privados e públicos da Alemanha Ocidental, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Ele conta com imagens inéditas e com filmes de grande diferença qualitativa entre si, além de imagens em preto e branco, sépia e a cores – sendo estas últimas um diferencial importante para um documentário de arquivo da Segunda Guerra. Ambos os filmes se utilizam de imagens captadas originalmente a cores, mas de natureza completamente diferentes: um exibe imagens caseiras de baixa qualidade técnica, obtidas através de um arquivo norte-americano e que mostram, basicamente, conhecidos personagens históricos em situações privadas. O outro filme usa cenas filmadas em película de boa qualidade e exclusivamente rodadas para o filme em questão, com planos bem trabalhados, de movimento contínuo e suave pela utilização do travelling que simula a viagem de trem para dentro de um campo de concentração, que por sua vez está abandonado, vazio. Não vemos pessoas, apenas vestígios. Em sua composição imagética, o conjunto de imagens a cores de Noite e Neblina nos passa uma sensação de frieza, de abandono e de solidão. A vida e as cores vibrantes da natureza de outono contrastam com as cinzentas ruínas do campo de concentração e com toda a morte que a sua história evoca; a relação que tais imagens estabelecem com o conceito de atualidade é direta. Já as imagens a cores de Suástica mostram cenas familiares, calorosas, espontâneas. O maior contraste delas é de ordem fenomenológica. Além disso, trata-se de imagens de arquivo, portanto a sua relação com o conceito de atualidade é indireta, ou seja, é uma relação imposta ou, de certa maneira, forjada. Apesar de tantas diferenças, podemos também apontar semelhanças funcionais e existenciais entre estes dois conjuntos de imagens: eles são componentes de dois filmes documentários que usam o material de arquivo como principal elemento da sua construção narrativa e lidam com o tema da Segunda Guerra e do Holocausto. São conjuntos de imagens coloridas que, como tais, oferecem destaque e proporcionam impacto quando vistas no meio das outras imagens de arquivo em preto e branco que os filmes exibem, assim como é de se esperar para filmes históricos que abordam temas do mesmo contexto. A beleza das cores contrasta com elementos intrínsecos das cenas; as cores oferecem também sentidos agregados às próprias narrativas estabelecidas. A dose inesperada de verossimilhança que elas trazem é capaz de proporcionar uma experiência cognitiva singular, principalmente ao espectador acostumado com os tons cinzentos das imagens da época e também uma leve confusão mental pelo incremento na sensação de proximidade dos acontecimentos retratados. |
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Bibliografia | LEYDA, Jay. Film beget Film – a study of the compilation film. New York: Hill and Wang, 1964.
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