ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Os Produtores e o Estado na Argentina e no Brasil (1930-1945) |
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Autor | Arthur Autran Franco de Sá Neto |
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Resumo Expandido | A proposta desta comunicação é parte da pesquisa que atualmente desenvolvo, intitulada “Sonhos industriais: o cinema dos estúdios na Argentina e no Brasil”.
Uma das hipóteses centrais da pesquisa, que busca, entre outras coisas, explicar as diferenças no desenvolvimento das duas cinematografias nos anos 1930 e 1940, diz respeito às relações entre Estado e cinema. No Brasil, desde 1932, já havia legislação protecionista de maneira a obrigar que um curta-metragem nacional fosse exibido antes de cada longa estrangeiro; na Argentina, a ação do Estado no período tendeu a ser mais tímida, só em 1943 foi instituída a primeira legislação protecionista, também relativa à exibição compulsória de um complemento nacional (documentário ou cine-jornal) antes do longa. No que pese esta diferença, a produção do país vizinho floresceu em termos industriais, chegando a produzir 52 longas-metragens em 1942; já no Brasil a atividade tendeu a se concentrar nos curtas, com a produção de longas ficando bastante restrita – 08 películas no ano de 1942. A proposta em tela pretende, de maneira comparativa, descrever e analisar quais as formas pelas quais os produtores de cinema da Argentina e do Brasil se relacionaram com o Estado no período que vai de 1930 até 1945. Em ambos os países, o ano de 1930 foi marcado por grandes mudanças políticas, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder no Brasil e a ascensão dos militares na Argentina por meio do golpe comandado pelo general José Félix Uriburu. Em 1945, ocorreu o fim da ditadura do Estado Novo e a redemocratização do Brasil; bem como se cristalizava a força política de Juan Domingo Perón na Argentina, que no ano seguinte chegou à presidência da República pela via eleitoral. Em relação à história do cinema, o interregno 1930-1945 corresponde, grosso modo, à introdução do som na produção de ambos os países, bem como à adaptação desses mercados à novidade. Neste período, ainda surgem importantes produtoras baseadas na concepção do Studio system, tais como Cinédia, Brasil Vita Filmes, Sonofilmes, Argentina Sono Films, Lumiton, Río de la Plata e Estudios San Miguel. Também astros e estrelas ganharam grande notoriedade, como foi o caso de Carmen Miranda, Libertad Lamarque e Luis Sandrini. O cerne da proposta em tela diz respeito à compreensão das relações entre os produtores e o Estado nos dois países, por meio da pesquisa em torno das associações de classe dos produtores e da sua ação de representação junto ao Estado, das políticas do Estado direcionadas para o campo cinematográfico, das influências e das pressões do Estado sobre os produtores e mesmo de que modo os filmes de ficção produzidos refratam as relações entre cinema e Estado no período abordado. No Brasil, instados pelo governo, os produtores organizaram-se já em 1934 de maneira corporativa, constituindo a ACPB (Associação Brasileira de Produtores Cinematográficos), que se tornou um importante canal de diálogo com o Estado, tanto nas reivindicações pelo aumento da legislação protecionista – a qual, a partir de 1939, passou a prever a obrigatoriedade de exibição compulsória de um longa por ano em cada cinema – quanto de maior fiscalização do cumprimento das leis já em vigor. Na Argentina, a relação dos produtores com o Estado foi organizada posteriormente em termos corporativos, mas a APPA (Asociación de Productores de Películas Argentinas) também teve papel proeminente quando da implantação da legislação protecionista já na década de 1940. Deve-se sublinhar que a maior organização corporativa dos produtores brasileiros parece corresponder à maior dependência em relação ao Estado, quando comparados aos produtores argentinos, pois, entre nós, praticamente toda a vida econômica do cinema nacional girava em torno da lei de obrigatoriedade de exibição do curta-metragem e de outras medidas protecionistas, enquanto no país vizinho os produtores possuíam relativa independência devido à sua força no mercado interno. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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