ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | D.A.Hamza, um cineasta húngaro perdido em São Paulo |
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Autor | Afrânio Mendes Catani |
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Resumo Expandido | Em maio de 1989, acompanhado de Luiz Felipe Miranda e Ladislao Szabo, fui a um pequeno apartamento da Rua Cerário Mota Jr., em São Paulo, conversar com o cineasta húngaro Deskö Ákos Hamza (Hódmezövásárhely, 01.08.1903 – Jaszberény, 17. 05.1993), que ia retornar à Hungria, após viver aqui mais de 35 anos. A conversa foi agradável, com Ladislao – “arquiteto, designer e colaborador do dicionário de cinema ´Uj Filmlexikon`, Hungria”, “filho do galã húngaro dos anos 30 e 40 László Szilassy, que trabalhou com Hamza” (Labaki, 1989) – ajudando a esclarecer passagens da trajetória do diretor. Voltei a escrever acerca de Hamza, da Cinematográfica Maristela, de Quem Matou Anabela?, por acaso: limpando arquivos, encontrei a rica entrevista que Labaki, então crítico da Folha, acompanhado de Ladislao e de Nelson Ascher, realizou com Hamza e publicada no dia em que ele retornava à Hungria, 16/5/1989.
Originário da Academia de Belas Artes de Budapeste, começou a pintar cedo, obtendo bolsa de estudos por 6 meses para estudar em Paris (1924), onde ficou por 11 anos, sobrevivendo lavando pratos e sendo figurante em filmes. Aprendeu o ofício observando tudo nos estúdios. A Paramount associa-se à Pathé, em Paris, e começa a fazer fitas europeias, com distintas versões: inglês, espanhol, alemão. “Os operadores eram os mesmos, as máquinas ficavam no mesmo lugar. Quando as versões húngaras foram feitas, a mise en scéne me foi confiada. Me tornei primeiro assistente na Paramount” (Labaki, 1989). Regressa à Hungria em 1936 e trabalha no estúdio estatal. Sua primeira função era calcular os salários dos empregados; pouco depois tornou-se diretor de produção e diretor, tendo fundado a Hamzafilm, em 1936. Realizou 12 longas como diretor, 6 curtas e, como diretor de produção, mais 8 (Catani, 2011; Szabo, 1989). Depois veio a guerra, ingressa na resistência húngara, passa à clandestinidade e escapa por pouco de ser capturado e morto, em 1944. Em 1946 é enviado à Paris para estudar e preparar a criação da televisão húngara. Acabam por não mandar dinheiro e ele fica na França, realizando um filme e preparando outro. Torna-se amigo de Sarte, elabora com ele roteiro de fita não realizada e, no final dos anos 40, foi à Itália, onde dirigiu Strano appuntamento (1950) – Labaki, 1989; Catani, 2011). Forjado nos estúdios húngaros, onde se produzia rápido e com pouco dinheiro (rodava-se um longa entre 10 e 14 dias), Hamza tinha fama de bom artesão. Na Itália, em 1953, recebe convite de Mário Audrá Jr., produtor da Maristela, para vir a São Paulo fazer Quem Matou Anabela?, só realizado em 1955. Antes, participou de Toda a vida em 15 minutos (1954), de Pereira Dias, atuando como consultor técnico, roteirista, montador e co-diretor. Quem Matou Anabela?, coproduzido com a Columbia, era uma comédia policial estrelada por Procópio Ferreira e com um elenco afiado, contando com a bailarina espanhola Ana Esmeralda, namorada e depois esposa de Audrá, que desde os anos 40 já fazia cinema em seu país (Gómez González, 2011). O filme apresenta clima inicial de suspense e mistério, sendo que o humor negro vai tomando conta: todos os interrogados confessam que mataram a personagem título. Há várias passagens bem humoradas, bons números musicais e flashbacks criativos. Rafael de Luna (2007) faz, com acerto, restrições: “nota-se exagerada rigidez na gramática clássica, provavelmente pela mão pesada do húngaro Hamza: um enquadramento pouco criativo, montagem sem fluidez e iluminação no desejado estilo hollywoodiano em que não faltam os closes de Ana Esmeralda com luz e brilho nos olhos”. O filme vai mal de bilheteria, a Maristela fecha em 1958 e Hamza se liga ao cinema em apenas outra oportunidade: em 1957 faz consultoria técnica às filmagens no Brasil de Amazonas (Love Slave of the Amazon), de Curt Siodmak. Dirige a montagem teatral A hora da fantasia. Depois, sobreviveu fazendo aquilo que sempre fez: respondendo à Labaki (1989), disse: “Pintei sempre. Não posso não pintar”. |
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Bibliografia | CATANI, A. M. A Sombra da Outra. A Cinematográfica Maristela e o cinema industrial paulista nos anos 50. São Paulo: Panorama, 2002.
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