ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A imagem como a última das histórias possíveis em Pindorama de A Jabor |
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Autor | Marco Túlio de Sousa Ulhôa |
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Resumo Expandido | Em meio ao conturbado fim dos anos 60 e início dos 70, o filme Pindorama (1970) de Arnaldo Jabor desponta no seio da ditadura militar brasileira como o representante oficial do cinema nacional no Festival de Cannes de 1971. Fruto de uma coprodução entre a Vera Cruz e a Columbia Pictures, após altos investimentos, o filme representou um fracasso comercial diante da fortuna crítica de obra experimental. A narrativa de Pindorama apresenta uma visão alegórica das origens históricas do Brasil. A palavra pindorama que, na língua geral dos índios significa “terra das árvores altas” ou “terra das palmeiras”, também era a forma como assim era chamado o Brasil pré-colombiano. No filme, é o nome de uma cidade imaginária do século XVI, parte de uma paródia que simboliza a formação da colônia portuguesa nos trópicos. Lugar que dá origem a um discurso artístico que pretende significar e discutir o Brasil, do passado ao contemporâneo.
Toda essa genealogia de uma nação permeada pela figura do índio, do negro e do colonizador, pretende apontar características da alteridade de um povo em formação, a partir de sua própria heterogeneidade e do seu aspecto filosófico de afrontamento da razão. Nesse contexto, a obra se destaca como uma proposta de leitura para além da verossimilhança histórica. Essa, a fim de alcançar, através do poético, uma abertura que se ocupa em examinar os devidos momentos em que uma determinada cultura alcança “uma síntese expressiva através da imagem”. (CHIAMPI, 2010: 123) Nesse sentindo, o impulso anacrônico e ressignificante da história, sugere “fragmentos dessa mesma história em que, determinadas culturas evaporaram imagens como revelação encarnada do absoluto”. (CHIAMPI, 2010: 123) Eis que surge a ideia da imagem como a última das histórias possíveis, pois, como ressalta o próprio Lezama Lima, para se traçar uma relação entre as imagens e as eras imaginárias: “tienem que surgir en grandes fondos temporales, ya milenios, ya situaciones excepcionales, que se hacen arquetípicas, que se congelan, donde la imagen las puede apresar al repetir-se”. (LIMA, 1971: 44) Em direção à análise de Pindorama, cabe notar uma simetria entre a intenção artística e metodológica do estudo aqui proposto. Sobre o ensaio Las imagénes posibles de José Lezama Lima, a pesquisadora Irlemar Chiampi ressalta que o texto reflete em sua forma o próprio conteúdo da imagem que o escritor postula. “Sem nexos lógicos, sem locuções causalistas, sem raciocínio didático, o ensaio torna-se o espetáculo daquilo que teoriza”. (CHIAMPI, 2010: 124) Da mesma forma, o filme Pindorama ganha o aspecto espetacular na medida em que expõe uma narrativa apoteótica e pouco didática na formulação de seu próprio conteúdo conceitual. Pois, assim como a intenção da obra é transcender o tempo histórico e a sua leitura, o conceito de eras imaginárias, em seu substrato, dá-se sem nenhuma pretensão de cientificidade, pois perpassa pela ideia de estruturar a história como “crônica poetizável de imagens”. Quem melhor ressalta a potência dessa leitura é a própria Irlemar Chiampi: É essa a outra causalidade, de enlaces invisíveis, que permite suprimir o contínuo sucessivo para instalar o contraponto cultural, a ordem coral das imagens. Nesse sentido, pouco importam, por exemplo, os traços diferenciais de natureza espaço-temporal que separam as culturas celta e asteca, se os sacrifícios humanos que praticavam são metáfora de sua cosmogonia. (CHIAMPI, 2010: 124) É nessa perspectiva de alçamento da cultura e da imagem para além da história, que surge na significação dessa genealogia barroca do povo brasileiro, não só em um caráter atemporal e híbrido, como também, de uma transnacionalidade e desterritorialização. Perspectivas que reclamam o caráter político da obra de Jabor, não só diante do seu próprio contexto, como também diante de uma lógica maior, onde se nota o caráter tragicômico de um país para além de planos civilizatórios. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó, Santa Catarina: Argos, 2009.
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