ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | DIRETORES MÉLOMANES: OS IRMÃOS COEN E O DANNY BOY BULLET FEST |
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Autor | Guilherme Maia de Jesus |
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Resumo Expandido | Em artigo publicado no livro Beyond the soundtrack, Claudia Gorbman (2007) inscreve alguns diretores na categoria de mélomanes, referindo-se a realizadores nos quais a música pode ser percebida como uma marca essencial de estilo. Embora reconhecendo que na obra de diretores como Ruben Mamoulian, René Claire, John Ford, Jean Vigo e Alfred Hitchcock a música opere com particular eficácia e força, a autora prefere reservar o termo mélomanes para um grupo que inclui Quentin Tarantino, Jean-Luc Godard, Stanley Kubrick, Martin Scorcese, Spike Lee, Woddy Allen, Alain Resnais, Sally Porter, Jim Jarmusch, Wim Wenders e Aki Kiarostami, que Gorbman considera especialmente empenhados em imprimir uma assinatura na música de seus filmes.
Esta comunicação discute aspectos das proposições da autora à luz da noção de estilo proposta por David Bordwell e da análise do filme Ajuste final (Miller’s Crossing. Joel Coen, 1990), fincando raízes na experiência de apreciação de uma sequência - que se tornou conhecida como o Danny boy bullet fest - percebida em relevo no primeiro desfrute privado da obra. Naquele momento, a sucessão de planos e cenas se impôs, de imediato, como algo que se quer rever. Do ponto de vista do apreciador empírico daquela experiência, tudo levava a crer estar diante de algo merecedor de ser guardado na pasta das cenas em que o agenciamento dos recursos musicais é digno de ser mostrado aos alunos, como exemplo de boa estratégia. Um exame do contexto da recepção do filme indicou que a potência expressiva do Danny boy bullet fest foi percebida de maneira semelhante por uma comunidade mais ampla de apreciadores. A música de Ajuste final recebe de Josh Levine (2000) a classificação de “grande música de cinema”. James Mottram (2000) considerada este o trabalho mais bem sucedido da parceria Coen-Burwell. Levine e Mottram, aludem especificamente ao Danny boy bullet fest, assim como fazem Alain Silver e Elizabeth Ward (1992) e os críticos Desson Howe (Washington Post, 05 out. 1990), Owen Gleiberman (Enterteinment Weekly, 28 set. 1990) e Jonathan Rosenbaun (Chicago Reader, 1990). Em um grupo de discussão intitulado “Miller’s Crossing Review criado exclusivamente em torno de questões sobre esse terceiro filme dos Coen, muitos discursos de fãs concordam em incluir a sequência no rol dos momentos clássicos do cinema e um participante, compartilhando entusiasmo com seus colegas, declara: “Fico contente em saber que não estou sozinho no que diz respeito a considerar a sequência Danny boy uma das melhores da história do cinema”. Por que motivo a sequência em exame convoca para si uma adjetivação tão positiva? Uma das apostas da análise é a de que a potência artística deste conjunto de cenas pode ser atribuída, em grande parte, ao modo como a canção “Danny boy” está articulada com a montagem, com a fábula e com a narrativa. Uma investigação sobre a estrutura do Danny boy bullet fest, observando os pontos de sincronização (CHION, 1999) entre os aspectos não-literários da canção e a edição da ação que nos é mostrada, revela um planejamento sutil e rigoroso. Além disso, tanto as palavras da canção quanto a carga cultural nela contida se articulam de modo engenhoso com a ação representada, com a origem e a natureza da relação entre os dois personagens principais e com o ethos do filme, como um todo. Considerando que graus semelhantes de engenhosidade e o preciosismo foram também observados em muitos outros momentos da obra de Joel e Ethan Coen, sugere-se aqui a inclusão destes realizadores no panteão dos mélomanes de Gorbman. |
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Bibliografia | CHION, Michel. El sonido. Barcelona: Paidós, 1999
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