ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Arthur Omar e os ensaios visuais sobre o som: do cinema à instalação |
|
Autor | Rosane Kaminski |
|
Resumo Expandido | Este estudo propõe uma reflexão sobre dois trabalhos de Arthur Omar nos quais o som é o assunto principal, e invade o dado formal. O primeiro é o curta-metragem em 35mm "O som, ou tratado de harmonia" (1984), que será discutido em relação a um contexto em que se intensificava o debate sobre a linguagem cinematográfica nas páginas da revista Filme Cultura no início dos anos 1980, a partir da ideia de que o cinema brasileiro estaria vivendo uma “crise de propostas” e de “inventividade” frente às exigências do mercado (FILME CULTURA nº34, 1980: 4). Em diversas edições da Filme Cultura no início daquela década, quando a revista entrava em “nova fase”, privilegiando a reflexão teórica e a análise dos filmes, observava-se uma ênfase nas discussões sobre as dimensões da materialidade no cinema brasileiro, com destaque para a questão do som, tanto do ponto de vista técnico (pouca qualidade dos aparatos sonoros nas salas de exibição) quanto do ponto de vista poético (a exploração do som enquanto elemento narrativo e expressivo do cinema). Poucos anos antes de realizar "O som, ou tratado de harmonia", Arthur Omar afirmou que “o som é o verdadeiro espaço do filme, [...] é o suporte real de toda percepção no cinema. [...] Sem ele, a imagem é um dejeto abstrato, feito de ritmos sem sentido.” (FILME CULTURA nº37, 1981: 19-20). Considerando que Omar privilegia em suas obras as “especificidades do suporte” (BENTES, 2007: 116), o som se torna assunto principal nesse filme que apresenta um teor ao mesmo tempo experimental e explicativo.
O segundo trabalho de Arthur Omar a ser discutido em relação ao referido filme, como continuidade e desdobramento de sua obra para âmbitos que extrapolam as barreiras entre cinema e artes visuais, é a instalação sonora "Silêncios do Brasil" (1992) montada no saguão do CCBB do Rio de Janeiro em 1992, apresentando música eletrônica e material sonoro “documental” coletado em viagens de Omar pelo Brasil. A justificativa para o cotejo das obras (o filme e a instalação) é a ênfase no som enquanto assunto central em ambas. As especificidades contextuais e poéticas detectadas nas duas propostas abre espaço para reflexão sobre a fragilidade das balizas teóricas entre cinema e artes visuais, posta pelas próprias obras num momento histórico em que o vigor estético e político da arte era novamente buscado através da ênfase na linguagem, na superação de clichês, e não apenas no conteúdo ideológico cujas “conclusões são anteriores à obra” (BERNARDET, 1980: 54). Além disso, ao utilizar-se do audiovisual para além da narrativa cinematográfica convencional, tanto no filme quanto na instalação aqui em questão, Omar tensiona e problematiza a visão enrijecida e ainda vigente naquele momento de que “cinema e artes plásticas ocupam extremos opostos no mundo da indústria cultural” (BRITO, 1980: 34). Nesse sentido, vale lembrar que "O som, ou tratado de harmonia" foi, inclusive, exibido no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1989, como obra experimental. Pretende-se, enfim, observar de que forma Omar responde, por meio das obras, às questões estéticas e políticas em torno do som no cinema naquele momento, bem como participa da diluição de barreiras conceituais acerca do lugar social do cinema e das artes visuais. |
|
Bibliografia | BENTES, I. Vídeo e cinema. MACHADO, A. (org.). Made in Brasil. SP: Iluminuras / Itaú Cultural, 2007.
|