ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Música e Documentário: os retratos impressionistas de Georges Gachot |
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Autor | Marcia Regina Carvalho da Silva |
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Resumo Expandido | Georges Gachot, diretor francês radicado na Suíça, se especializou na produção de documentários musicais, com particular atenção para a música erudita. Entretanto, Gachot tem também uma ligação afetiva com a MPB, que ganhou expansão com os documentários "Maria Bethânia — Música é Perfume" (Suíça/França, 2005) e "Rio Sonata" (Suíça/França, 2010) sobre as representativas cantoras brasileiras Maria Bethânia e Nana Caymmi. Estes documentários são retratos soltos que investigam as vozes e interpretações destas cantoras, suas trajetórias profissionais e suas ideias e percepções musicais, evitando polêmicas e declarações ousadas, com a configuração audiovisual de um olhar estrangeiro sobre o Brasil e sua música.
"Música é Perfume" possui uma narrativa centrada na própria voz da biografada, Bethânia, que nos convida a uma viagem pelos vários sons, instrumentos e matizes de sua trajetória musical a partir do acompanhamento de sua atuação nos palcos, durante a turnê do show “Brasileirinho”, e na gravação em estúdio do álbum “Que Falta Você me Faz”, dedicado à obra de Vinicius de Moraes. Gachot parece buscar a representação da voz de Bethânia, investigando de onde vem sua força musical por meio do registro de ensaios e de sua ida a Santo Amaro, cidade natal, para contar também a história de sua família, em particular sua relação com seu irmão mais famoso, Caetano Veloso. O próprio título do documentário vem de uma definição da biografada, quando Bethânia diz que "A música é como perfume, é sensorial. Não tem coisa que faça você, em fração de segundos, visualizar, sentir, viver, lembrar, raciocinar sobre um assunto, como uma música ou um cheiro”, bem ao tom estilístico da maneira de filmar de Gachot. Ainda em 2004, nas gravações do documentário de Bethânia, Gachot conheceu Nana Caymmi no camarim do show "Brasileirinho". O encontro foi o flagrante de Bethânia, Nana e Miúcha improvisando "Vestido de Bolero", de Dorival Caymmi, sequência que é apresentada em "Rio Sonata". Além deste registro, o documentarista se apropria de material de arquivo para resgatar um pouco a trajetória de Nana, como sua participação no festival da TV Record, de 1967, defendendo a canção "Bom Dia", a dobradinha com o piano de Tom Jobim em "Só Louco" e sua interpretação de “Atrás da Porta", numa homenagem a Elis Regina em programa da TV Globo, de 1997. Em "Rio Sonata" o diretor realiza um passeio pela vida e obra da cantora, revelando o seu encantamento pela cidade do Rio de Janeiro e pela própria biografada, principal depoente do filme. Nana fala livremente sobre o amor, sua família, música e suas atividades cotidianas. Conta, por exemplo, que, embora fosse casada com Gilberto Gil nos anos 60, nunca entendeu a Tropicália. Ou ainda, sem modéstia alguma confessa que adora sua própria voz, e acompanhada por seus irmãos (Dori e Danilo Caymmi) relembra a importância de seu pai (Dorival Caymmi) e suas afinidades musicais. No estúdio de gravação ou nos palcos, Gachot busca registrar o timbre único de Nana em suas interpretações extensivas. Esta comunicação visa, portanto, investigar o estilo do diretor diante do desafio de se trabalhar com narrativas sobre duas grandes vozes femininas da história da MPB de maneira bastante intimista. Com esta análise, pretendo dar continuidade ao meu estudo sobre as diferentes práticas de produção de documentários biográficos sobre personagens da MPB, com a particularização do estudo da linguagem sonora dos documentários musicais, aspirando compreender as principais abordagens e resultados estilísticos que caracterizam essas narrativas, privilegiando trabalhos que nos permitam apreender, por meio de seus recursos expressivos, as estratégias de investigação histórica engendradas pela relação entre imagem e som, música e documentário. |
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Bibliografia | AMADO, J.; FERREIRA, M.M. (org.) Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
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