ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Cinema e arqueologia: found footage em filmes wellesianos de Sganzerla |
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Autor | Régis Orlando Rasia |
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Resumo Expandido | Os filmes de Sganzerla recortados para análise, também conhecidos como “wellesianos” são compostos de grande parte de materiais de arquivo do passado. Partindo do que foi aparentemente esquecido ou ignorado da passagem de Welles na década de 40, Sganzerla transformaria tudo em um misto de investigação, curiosidade, pensamento, paixão e experiências canalizadas na forma cinematográfica.
O diretor brasileiro nunca fecharia os filmes wellesianos, se não com sua morte. Nas obras sobre Welles, mesmo que mentalmente, sempre haveria um filme por fazer, com várias montagens/conexões possíveis, tudo o que era achado sobre Welles em arquivos, acervos, cinemateca, jornais, anotações, caricaturas, rasuras, absolutamente tudo poderia se conectar em seus filmes nos mais diversos agenciamentos, colaborando por novos modos de composições em seus filmes. Os filmes de Sganzerla, bem como o seu processo criativo, fundamentava-se na esfera arqueológica (achados, encontros, escavações de arquivos). Sob a ideia de reemprego do material de arquivo, trazemos um dos conceitos tão caros para a análise dos filmes de Sganzerla, o found footage. Segundo Carlos Adriano Rosa, “o found footage compreende toda a criação cinematográfica tendo como base a estocagem e a criação de um inventário de materiais do passado, cujas fontes das imagens são variadas” (ROSA, 2008, p.196). A obsessão do diretor pelas imagens e sons em formas-arquivos é evidente nos filmes wellesianos. Passando por um tratamento criativo do arquivo, tais filmes falam da história e se utilizam de matérias primas da própria documentação. Para Sganzerla a ressignificação teria traços recorrentes da poesia além do experimental na sua relação com a visualidade, querer mostrar mais do que narrar, dessa forma a narrativa insiste em ver e ouvir os pedaços de arquivos ao invés de entender ou fazer compreender a narrativa. O found footage compõe-se do encontro dos materiais e, por conseguinte da ressignificação como parte de uma reflexão dos conceitos da pós-modernidade, cuja dinâmica no dispositivo cinematográfico (documental e experimental) contemporâneo versa uma ideia de repetição e diferenciação. Interroga-se então o engenho de Sganzerla em reapropriar, regressar, ressignificar materiais da passagem de Welles pelo Brasil e toma-los em uma nova narrativa. Ao montar tais filmes, maquina-se a ideia de um quebra-cabeça sob o prefixo “re”: ressignificação, remixagem, reordenações de materiais do passado. Para Deleuze (2006, p.229) “eis por que o mundo da representação se caracteriza por sua impotência em pensar a diferença para si mesma, pois esta só é apreendida através da recognição, da repartição, da reprodução, da semelhança, na medida em que elas alienam o prefixo RE”. O significado e uso do prefixo “re” de origem latina, possuem sentidos importantes e referenciais da pós-modernidade: repetição, reforço e retrocesso, de forma que a ressignificação convém pensar a diferença em si mesma. Reapropriar, ressignificar se tornam termos expoentes da modernidade, vive-se sobre a era do arquivo, da estocagem em repositórios audiovisuais (plataformas digitais) na internet como youtube, vimeo, etc. Agenciamentos sob a ideia da ressignificação não são exclusivos da internet, mas todos os meios que existem e existiram até então e, como intercessor para esta reflexão no cinema, os filmes de Sganzerla. Se o found footage, entra para no plano de discussão da contemporaneidade, Sganzerla e outros cineastas o fizeram por sua intima conexão com a história. A imagem contemporânea é assim mista, múltipla, fragmentada sob potência dos pedaços ressignificados. A noção do found footage com o cinema de Sganzerla serve de gatilho para entender os regimes de um velho-novo cinema que torna a repetir e se diferenciar. |
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Bibliografia | BERNADET, Jean-Claude. A subjetividade e as imagens alheias: Ressignificação. In: BARTUCCI, Giovanna. Cinema e estéticas de subjetivação. Rio de Janeiro: Imago, 2000. 21-43p.
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