ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A sobrevivência da imagem dialética: de Daumier a Eisenstein |
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Autor | Marcos Fabris |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende apresentar e problematizar uma das matrizes pictóricas centrais na obra do cineasta russo Sergei Eisenstein, a saber, a produção litográfica executada diariamente para os jornais satíricos na Paris no século XIX pelo caricaturista Honoré Daumier. A peculiaridade desta atração pelo artista francês, reconhecidamente admirado por Eiseinstein desde pelo menos sua adolescência, reside sobretudo no fato de que embora a obra de Honoré Daumier não se encontrasse imediatamente circunscrita às fronteiras, questões e desafios impostos pela União Soviética do cineasta, este logo perceberia o uso produtivo que poderia fazer de tais imagens no contexto revolucionário no qual ele se encontrava. Os novos usos e funções atribuídos à esta imagística não desconsiderariam algumas das conquistas formais mais notáveis atingidas por Daumier em seu tempo: 1. a utilização da montagem como estrutura basilar para a configuração do espaço pictórico, ou seja, a construção de um espaço artístico que ao se apresentar como tal revela-se necessariamente produto e reflexo de um espaço social, e 2. o humor utilizado como armamento subversivo, associando dialeticamente elementos relativos ao que o poeta e crítico francês Charles Baudelaire definiria por “cômico significativo”, isto é, a imitação associada a um elemento criativo e “cômico “absoluto” ou grotesco, ou seja, a criação associada a um elemento imitativo.
Nestes termos, as situações e as personagens oriundas da produção do artista francês ganharão, na produção cinematográfica de Eisenstein, uma atualidade insuspeitada. Apropriadas, adaptadas, re-trabalhadas e atualizadas, as imagens ratificam sua força original que, potencializadas pelas capacidades e possibilidades inerentes ao meio cinematográfico e pelas faculdades artísticas e criativas de Eisenstein, atingirão níveis insuspeitados. A renovação de sua vida estética e política – a necessária sobrevivência das imagens que se pretendem instrumento de avaliação de processos históricos – encontra solo fértil nos espaços cinematográficos arquitetados por Eisenstein. Pretendo, partir deste cotejo, apresentar algumas imagens produzidas por Honoré Daumier, confrontando-as com uma seleção de sequencias extraídas de A Greve (1924), O Encouraçado Potemkin (1925) e Outubro (1927) para demonstrar a produtividade do exercício comparativo. |
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Bibliografia | BAUDELAIRE, C. Œuvres complètes. Paris: Éditions Robert Laffont, 1980.
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