ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | ENCENAÇÕES MIDIÁTICAS E A VINDA DA FAMÍLIA REAL PARA O BRASIL |
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Autor | Jean Raphael Zimmermann Houllou |
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Resumo Expandido | No presente trabalho propomos examinar comparativamente o filme Carlota Joaquina: Princesa do Brazil e a minissérie O Quinto dos Infernos a partir das maneiras como eles encenam os fatos históricos. Os dados retirados da comparação foram somados a uma investigação sobre os contextos históricos e as críticas jornalísticas da obras com intuito de inferir acerca do grau de convergência memorial dessas obras midiáticas entre a audiência nos momentos de suas exibições.
Para proceder a análise utilizamos os métodos defendidos por Marc Ferro. O autor afirma que para analisar uma produção audiovisual não é suficiente visualizar os elementos internos da obra, além disso, é necessário observar dados referentes ao contexto produção. Nesse trabalho também procuramos inferir sobre o grau de convergência memorial entre a audiência com relação ao exibido pelas obras midiáticas. Para tanto, observamos as críticas jornalísticas e os números de bilheteria e audiência. Nessa análise utilizamos os conceitos de memórias fortes e fracas de Joël Candau. Analisamos e comparamos as críticas jornalísticas realizadas sobre o filme e a minissérie e destacamos o tratamento dado pela crítica aos pontos que são semelhantes nas duas obras. O recorte temporal dos periódicos pelos quais pesquisamos as críticas foi de janeiro a junho de 1995 e janeiro a abril de 2002, períodos em que as obras audiovisuais estavam sendo exibidas. As obras audiovisuais foram divulgadas nacionalmente, por isso, temos prioridade para periódicos de circulação nacional. Pesquisamos a “Revista Veja”, “Revista Isto É” e o “Jornal Folha de São Paulo”. Observamos que entre a produção do filme “Carlota Joaquina: Princesa do Brazi” e a exibição do mesmo, ocorreu uma mudança contextual com a implantação do Plano Real. O plano econômico trouxe uma sensação de melhoria que surtiu efeitos na campanha presidencial de 1994. A partir dessa mudança, inferimos que foi possível consumir a maneira debochada com que o filme apresentava a história e a partir dela estabelecer memórias de duas maneiras diferentes, que correspondiam, cada qual, a um dos dois grandes pontos de vistas que definiram a campanha eleitoral. Uma grande parte do público consumiu o filme como se aquele passado colonial também se referia a um passado recente, em que os planos econômicos fracassavam, mas que era diferente do presente em que a economia estava estável. Para o público descrente acerca do Real, foi possível consumir a película da maneira pensada por Camurati, associando diretamente o passado representado na película com o presente. No que tange à minissérie O Quinto dos Infernos, concluímos que a maneira satirizada com que a obra apresenta os personagens históricos foi criticada pelos jornalistas e teve uma audiência abaixo das expectativas porque grande parte da população brasileira não estava mais disposta a ler a sua história dessa maneira, seja o passado recente, seja o colonial. Muitos brasileiros assumiram a estabilidade da moeda e a consolidação do regime democrático como uma conquista do passado que deveria ser preservada. Por isso, não estavam mais dispostos a ridicularizar sua história como fazia a minissérie. Dessa forma, podemos inferir que a minissérie não conseguiu que a sua organização memorial convergisse entre os indivíduos e se configurasse numa memória forte da mesma maneira que o filme. |
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Bibliografia | BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
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