ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Imagens de arquivo em Una pelea cubana contra los demonios |
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Autor | Maria Alzuguir Gutierrez |
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Resumo Expandido | Una pelea cubana contra los demonios (1971) é um dos filmes mais inquietantes de Gutiérrez Alea. O cineasta avaliou que o filme não funcionava por ser “demasiado carregado de significações, cheio de ambiguidades, repleto de cabos soltos, muito exasperado de tensão desde o princípio” (Gutiérrez Alea em Évora, 1996: 39). Por outro lado, ele afirmou ter muito amor a esta obra (ao contrário, por exemplo, de Cumbite, que não considerava como uma expressão pessoal). Está claro que Gutiérrez Alea, produzindo no ICAIC, tinha preocupações com a comunicabilidade de seus filmes, e, neste sentido, considerava Memorias del subdesarrollo (1968) e La última cena (1977) obras mais bem sucedidas, já que estas conseguem uma comunicação mais direta com o público, sem abrir mão da complexidade. No entanto, as características que Gutiérrez Alea vê como defeitos de Una pelea parecem ser justamente aquelas que fazem deste filme uma obra tão instigante. Até descrevê-lo é tarefa difícil, dada a proliferação de estímulos, significantes: a movimentação da câmera, os cortes, os sons, a música, as vozes, a interpretação dos atores. Qualquer tentativa de racionalização do filme é um desafio, e também um risco de empobrecê-lo, simplificá-lo, para fazê-lo caber na linguagem escrita, num discurso analítico que certamente não pode dar conta de todos os elementos da linguagem audiovisual desta obra singular.
Partindo dos temas sugeridos para o encontro da Socine em 2013, nossa proposta é fazer uma análise das imagens de arquivo presentes em Una pelea cubana contra los demonios. Trata-se de um filme histórico que retrata um episódio da Inquisição em Cuba durante o século XVII. Com a intenção de deslocar um vilarejo costeiro para o interior da ilha, um Padre começa a alardear a existência de demônios na vila. Alguns moradores dali se opõem à mudança da comunidade para o interior. Invasões de piratas atormentam o local. Partindo de relato historiográfico homônimo de Fernando Ortiz, o filme retrata a matéria histórica qual fosse um documentário, com a câmera sempre em movimento, imersa na ação. Numa de suas sequências mais notáveis, Contreras, o homem que faz oposição aos desmandos do Padre, visita uma pitonisa, que lhe prevê um futuro não pessoal, mas coletivo: Contreras é um iniciado, está entre aqueles que nasceram cedo demais, e deverão morrer mil vezes antes de encontrar sua própria vida. A cena de Contreras com a pitonisa é interrompida por flashes muito rápidos com imagens de arquivo: são imagens de José Martí, Che Guevara e Fidel Castro, este junto a outros guerrilheiros, vitoriosos. As imagens parecem, claramente, inscrever Contreras numa linhagem de revolucionários que se sucederam para em 1959 dar a Cuba sua verdadeira libertação. Um letreiro no início do filme lança uma chave de leitura que também aponta na mesma direção, diz assim: “Los hechos que aquí se narran, reales unos, imaginarios otros, pueden considerarse entre las primeras escaramuzas de esa larga batalla por la libertad que culmina trecientos años después, en nuestros días, cuando la isla es finalmente dueña de su propio destino”. No entanto, dificilmente um letreiro de abertura como este pode conter a polissemia do filme, e impedir que sobre ele se teça uma pluralidade de interpretações. Seu excesso vertiginoso de signos, e a inscrição dessas imagens de arquivo numa visita à pitonisa, uma sequência ritualística, mística, torna-as opacas, faz com que custe um pouco mais compreender seu significado. Neste sentido, pretendemos fazer uma reflexão sobre tal sequência do filme remetendo-nos ao uso de imagens de arquivo em outros filmes de Gutiérrez Alea, como o célebre Memorias del subdesarrollo, e também Los sobrevivientes (1979) e Hasta cierto punto (1983). A partir de uma comparação com os usos de imagens de arquivo nestes filmes pretendemos lançar novo olhar àquelas presentes em Una pelea cubana contra los demonios. |
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Bibliografia | BERTHIER, Nancy. Tomas Gutiérrez Alea et la révolution cubaine. Paris: Cerf, Condé-sur-Noireau, Corlet, 2005.
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