ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | arte, cinema e o devir-animal: potências para romper a linguagem |
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Autor | Eduardo Antonio de Jesus |
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Resumo Expandido | Em um emblemático videoclipe de década de 1990 a cantora Bjork surge careca em primeiro plano diante de um inexpressivo fundo branco. A música é "Hunter" (caçador) e traz uma letra estranhamente poética que, de forma muito peculiar, aproxima caça e caçador. Além da letra, a imagem nos fornece outras pistas de significação quando a cantora parece não conseguir conter algo que dela se desprende e vai aos poucos transfornando-a em uma espécie de urso muito estiliizado e em traços metálicos que surge e desaparece de seu corpo, até toma-lo completamente. Bjork é caçadora e caça nesse arranjo ousado que coloca a presa saindo de dentro do caçador. O que se pode caçar aí? Não se trata de uma mistura, mas de um Outro, de uma alteridade, nesse caso oscilante, entre dois pólos distintos, humano e animal.
Em outro registro, bastante distante do universo pop de Bjork, temos as obras de Rodrigo Braga. Quando nos deparamos com seus vídeos e fotos percebemos uma complexa aproximação entre humano e animal. Em suas obras, seu corpo é desterritorializado pela potência que ali se coloca, abrindo o corpo para uma construção nova e fugaz, já que o que se constrói não se trata mais de corpo humano ou animal, mas de um terceiro, uma imagem construída e atravessada pelo devir-animal, como uma espécie avançada de registro de performance, que ficcionaliza a tensão entre esses dois polos. O que nos indagamos é como esse devir-animal que reconfigura os desejos e os corpos abolindo categorias mais fechadas em busca de novas significaçōes opera no domínio da imagem em movimento. Assim, essas duas formas de aproximação com o animal nos servem como dois modos de expressão para refletirmos sobre o devir-animal e a linguagem do audiovisual. Em um dos polos, como em Bjork, o que é da ordem do animal surge de dentro para fora. Incrustra-se na pele vindo de dentro. Já no caso de Braga, o animal é um anexo colocado sobre seu corpo, reconfigurando-o e,muitas vezes, levando a aproximações fortes entre as superfícies de seu corpo e o do animal, com muita intensidade. Nesse caso, o que é do animal é externo ao corpo, questão de superfície, de acoplamento, tudo externo. Esses dois gestos, heterogêneos e repletos de diferenças, nos servem como um ponto de partida para pensar a linguagem do audiovisual sob a ótica do devir-animal. Vamos pensar em que medida o devir-animal, como definido por Deleuze e Guattari, pode atuar no domínio do audiovisual reconfifurando a linguagem e as visualidades em novos e inusitados arranjos e territórios. Entre as obras a serem analisados destacamos as instalações "The clock" de Christian Marclay (2010), "Ten thousand waves" de Isaac Julien (2010) e o filme que integra a instalação “Mil e uma noites possíveis” de Rivane Neuenschwander. Como essas obras reagem no espaço expositivo expandindo o cinema e tornando-o campo de ação para o devir-animal? Como se situam nesse campo as passagens entre as artes visuais e o cinema? Vamos tomar o devir-animal como um operador para entrar nas questões que esses trabalhos suscitam. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Of an other cinema. IN: LEIGHTON, Tanya (org.). Art and moving image. Londres: Tate, Afterall, 2008.
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