ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Salles Gomes no Jornal da Tarde e em Argumento (1973) |
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Autor | Pedro Plaza Pinto |
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Resumo Expandido | Do ângulo da face pública, como crítico, a presença do crítico Paulo Emilio Salles Gomes na coluna de cinema do Jornal da Tarde em 1973 estava implicada com a assunção da posição que ele próprio denominou “jacobina”, de defesa da dedicação integral ao cinema brasileiro e combate à “mentalidade importadora” que ainda atravessa o meio cinematográfico local. Nos primeiros anos daquela década, tal posicionamento se coadunava com o fomento pelo especialista de propostas de exame da realidade a partir da construção da pesquisa do cinema. No mesmo momento, o intelectual se também se dedicava ao trabalho na comissão de redação da revista Argumento, e demonstrava o desajuste da figura do cineasta Humberto Mauro de mudança para o Rio de Janeiro, com o conhecido estudo de tese publicada em livro.
A resistência ao autoritarismo e o exame de novas ou persistentes tendências estéticas durante a intervenção no Jornal da Tarde estão relacionados com a assunção da postura de especialista, crítico e intelectual na mesma figura. À moda dos rodapés literários, a intervenção se inicia com uma apresentação e desenvolve, ao longo de 17 artigos, uma série de motivos a partir da estrutura de crônica ou de nota, com comentários sobre filmes e exibições. Já a participação junto à comissão de redação da revista Argumento, que se tornou um símbolo de oposição ao regime ditatorial, é decisiva para talhar mais um aspecto na sua figuração pública: a revista publicará o texto de grande impacto cinema: Trajetória no subdesenvolvimento. Outro dado intessante está no material de preparo e redação do texto curto da apresentação da mesma revista. O texto expõe sobre tarefas e dificuldades do intelectual num regime de exceção. Há mais de uma versão e as alterações pontuais nos dão pistas do campo de problematização e dos sentidos possíveis para os termos. O tema mais amplo do projeto de pesquisa que dá origem ao recorte desta comunicação é a crítica de cinema aliada à pesquisa histórica, estudado através da escrita de Salles Gomes. Demarca-se o período em que estes dois vieses do seu trabalho andaram lado a lado, na fase de consolidação do cinema moderno no Brasil, de organização do ensino de cinema e da pequisa histórica na área, entre as décadas de 1960 e 1970, com a legitimação da cinemateca como modelo de instituição para conservação e difusão do patrimônio cinematográfico. A intervenção crítica de Paulo Emilio Salles Gomes no momento da publicação de Cinema: trajetória no subdesenvolvimento, 1973, é composta de três vetores de trabalho: a pesquisa histórica sobre o cinema no Brasil, a abordagem analítica e a crítica de filmes. O objetivo mais pretensioso é o remodelamento dos conceitos de cinema e de crítica de cinema quando sob o signo da autoridade reconhecida e em relação ao momento em que se vivia, há cerca de quarenta ou cinquenta anos. Uma busca que vem desde a década anterior e que tentava deslocar o nexo de autoridade do argumento ou da liberdade de dizer. O reposionamento do crítico e estudioso no período permite apontar a consolidação de um sistema cinematográfico de caráter moderno, específico porque fragmetário e em-si mesmo lacunar, que elabora um encadeamento de contínuos choques contra obstáculos que se colocam contra a sua própria existência. Cada momento decisivo da trajetória do cinema brasileiro, de acordo com esta matriz modernista, foi bem sucedido na medida em que enfrentou suas limitações e os obstáculos de seu tempo. |
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Bibliografia | CALIL, Carlos A. e MACHADO, Maria T. (org). Paulo Emílio: Um intelectual na linha de frente. São Paulo : Brasiliense, 1986.
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