ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A CASA DAS SETE MULHERES: O PATRIMÔNIO GAÚCHO E A MICRO HISTÓRIA |
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Autor | Maria Teresa Collares |
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Resumo Expandido | Se, como coloca Stuart Hall, as narrativas históricas agem sobre o imaginário coletivo, reformulando e produzindo identidades culturais (2000, p. 706), faz-se premente investigar como estas identidades são representadas em produções contemporâneas que lidam com temas históricos, particularmente aquelas que revisam identidades regionais a luz da problematização do discurso histórico característico da pós-modernidade. Assim, este artigo discute a representação da identidade do gaúcho na minissérie brasileira, produzida e veiculada pela TV Globo, A Casa das Sete Mulheres (MONJARDIM, 2003), que revisa a identidade tradicional do gaúcho brasileiro ao reinscrever na história da Guerra dos Farrapos, acontecida no estado do Rio Grande do Sul entre os anos de 1935 e 1945, o papel das mulheres anônimas bem como de outros grupos chamados minoritários. Uma das características da arte pós-moderna, segundo Linda Hutcheon, é dialogar com o passado, questionando o processo da história e reconstruindo as relações do presente com o que aconteceu (2002, p. 152), o que corrobora a visão de que a minissérie da TV Globo está inserida no debate pós-moderno acerca sobre história e identidade.
Este trabalho discute a minissérie em relação ao gênero de filmes britânico chamado heritage, traduzido como patrimônio cultural, descrito por Andrew Higson. Esse gênero é composto por filmes de ficção histórica que são, em sua maior parte, adaptações literárias, fator central para sua caracterização, para o seu discurso e para o significado que se venha a atribuir a ele. O contraponto a essa leitura é dado pela análise de Andreas Huyssen sobre a musealização que perpassa a cultura contemporânea. O objetivo é argumentar que A Casa das Sete Mulheres assemelha-se ao gênero de cinema de patrimônio cultural e, assim como ele, representa o passado da nação através de um olhar musealizado, que – e neste ponto minha análise diverge da de Higson – não é necessariamente conservadora ou opressiva. A escolha em analisar a minissérie a partir do gênero de filmes descrito por Higson se deve principalmente às semelhanças em relação às características da representação do passado nacional nos filmes discutidos por Higson e na minissérie abordada. Essas características englobam, por exemplo, a audiência que tentam atrair, familiarizada ao cânone literário; a valorização do discurso autoral e de autenticidade; e, paradoxalmente, a intertextualidade que, segundo Higson, faz com que esse gênero reproduza o passado como um pastiche superficial em que o referente não é o próprio passado, mas outros textos (1993, p. 112). Ao discutir o que chama de impulso de musealização contemporâneo, Andreas Huyssen reafirma a idéia que, na cultura humana, não existe o objeto imaculado, anterior à representação e afirma que esta busca pelo autêntico é uma espécie de fetichismo (1995, p. 33). A iconografia do gênero de patrimônio cultural descrita por Higson encontra correspondência no cenário natural grandioso e na reconstituição de época minuciosa de A Casa das Sete Mulheres. Baseado em Jameson, Higson liga essa qualidade da imagem à transformação do passado em mercadoria acreditando que o espetáculo visual convida a um olhar nostálgico que resiste à ironia e à crítica social (1993, p. 112). Huyssen, porém, defende que ver a musealização como oposto de preservação ou algo que esteriliza o passado, não dá conta das tentativas de trabalhar com passados reprimidos ou marginalizados (1995, p. 31). O próprio Higson certifica que o filme de patrimônio cultural é um rico conjunto de experiências que não deve ser reduzido às experiências aparentemente singulares do patriotismo elitista e conservador (1996, p. 235). Também em A Casa das Sete Mulheres, vemos um esforço no sentido de recuperar a história de grupos chamados minoritários e uma valorização da história dos indivíduos, a micro história, em detrimento da macro história sobre a qual costuma se debruçar a historiografia oficial. |
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Bibliografia | HALL, Stuart. Cultural Identity and Cinematic Representation. In: STAM, Robert, MILLER, Toby (Ed). Film and theory: an anthology. Oxford: Blacwell Publishers, 2000. p. 705-15.
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