ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Borinage e Misère au Borinage: abordagens diferenciais |
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Autor | Paulo Menezes |
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Resumo Expandido | Esta apresentação problematiza a construção especial de realidade realizada pelos filmes, o que adquire significado epistemológico significativo quando está se lidando com filmes documentais, onde a confusão e a fusão entre a realidade das imagens e a “realidade” exterior que a câmera “capta” são mais fragrantes e inegáveis. Nessa direção, discute-se o surgimento do cinema documental pela análise de suas variantes originais – documentário, documentário social, filme etnográfico – em suas relações com as possibilidades de conhecimento que possibilitam ou ao acesso ao conhecimento da “realidade social” que aludem. Esta análise critica os fundamentos positivistas que organizam os primeiros documentários bem como o olhar positivista com o qual grande parte dos espectadores os assistem – o que vale também para os filmes documentários contemporâneos, o que é fundamental para a que se veja filmes equivocadamente como uma expressão do “real” em si mesmo – questionando suas potencialidades epistemológicas a respeito de que tipo de informação essas imagens sugerem. Assim, se podemos pensar que os filmes aludem informações sobre o que é percebido pelas imagens e sons, podemos também pensar que eles trazem muito mais informações sobre os valores e avaliações instituídos pela narrativa fílmica por meio de seu diretor ou realizador, expressando assim posicionamentos sociais e hierarquias que se materializam nas maneiras como uma história é organizada e contada para o espectador.
Utiliza-se, para fundamentar esta discussão, o filme Misère au Borinage, de Joris Ivens e Henri Storck, em comparação com a outra versão inicial do mesmo filme, denominada apenas Borinage, bem como com o filme Drifters, de Grierson, tido por vário autores como o filme inaugural do que se poderia chamar de filme sociológico. Essa tripla comparação é significativa pois existem diferenças substanciais entre as duas versões do mesmo filme entre si, onde a alteração da ordem de algumas cenas altera de maneira contundente o significado aludido pelos filmes, sendo a primeira versão muito mais alusiva e instigante, mais aberta a projeções de sentido pelos espectadores, enquanto a segunda foi reorganizada de maneira a dar ao espectador uma linha interpretativa mais educacional e orientada; além das diferenças que ambas as versões possuem em relação ao filme inaugural de Grierson, pelas proposições políticas que assumem em contraste com a eleição do “trabalho” como foco narrativo relativamente “neutro” em seus desdobramentos como temos em Drifters. Nessa direção, partindo-se da ideia de Pierre Sorlin (1977) de que todo filme é uma “encenação social”, e não um “retrato de realidade”, como vinha da tradição do filme etnográfico (cf. Piault, 2000), a análise vai buscar os fundamentos desta construção social materializada pelo filme, suas valorações e hierarquias, seus conceitos fundantes centrais, buscando compreender o universo social ali apresentado em suas dimensões alusivas e epistemológicas para a produção de conhecimento em ciências sociais, em especial da sociologia. Por fim, vale a pena ressaltar que o formato da mesa prevê a projeção do filme em questão, e intervenções mais curtas do que é o tradicional da Socine, 15 min., (ao invés de 20 min.) de maneira a se preservar o tempo de debate público e o tempo reservado à sessão. Ressalta-se, nessa direção, a discussão de um mesmo filme por três abordagens diferenciais, além de sua projeção por se entender ser este filme um filme de difícil acesso de exibição o que colabora na possibilidade de aprofundamento das discussões que se farão com o público presente que pode estar assistindo-o pela primeira vez. |
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Bibliografia | BAZIN, André. (1985) Qu'est-ce le cinéma?, Paris, Éditions Du Cerf, pp. 63-68.
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