ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Entre o cinema e a Censura: notas sobre "Amadas e Violentadas" |
|
Autor | Caio Túlio Padula Lamas |
|
Resumo Expandido | Brasil, década de 1970. Em alguma metrópole – podemos supor ser São Paulo, mas não temos indícios claros de monumentos, avenidas ou outros lugares característicos da cidade - um escritor chamado Leandro Kopezky, rico e pertencente à elite cultural, vai para o estúdio de Frinéia, uma fotógrafa que acabara de conhecer em uma exposição, para participar junto com ela de um ensaio de nu artístico. O que ela não sabia é que a relação sexual que tentaria estabelecer com o escritor, subentendida desde o primeiro momento em que começaram a conversar, teria um fim trágico: sua morte nas mãos não mais do educado homem que conhecera há pouco tempo, mas de um assassino impiedoso.
Essa é uma cena de "Amadas e Violentadas", filme do gênero policial dirigido por Jean Garret e lançado em 1976, cujo tema principal é a impotência masculina, manifestada na trajetória do protagonista, interpretado pelo astro David Cardoso, e suas más sucedidas tentativas de consumar o ato sexual, todas iniciadas por mulheres ativas e independentes e interrompidas bruscamente pela revelação do lado assassino de Leandro, progressivamente explicado com o desenrolar da trama. De um lado, assim, vemos mulheres que, em geral, tem intenções claras e são decididas, enfrentando as dificuldades a sua frente para conseguir alcançar seus objetivos, geralmente de ordem sexual. De outro, está justamente o protagonista, um anti machão cuja ambiguidade – o escritor, de um lado, e o assassino incontrolável, de outro - é o motor que movimenta as ações ao longo do filme. Essa dicotomia é claramente apresentada no próprio espaço da trama: assim, a mansão em que Leandro habita é o lugar de proteção, seja do escritor tímido e sóbrio ou de Marina, a menina virgem e pura que se torna sua noiva após ter sido salva por ele de perseguidores misteriosos. Fora de seus muros, Marina pode ser sequestrada; Leandro pode conhecer outras mulheres e deixar-se levar por seus impulsos assassinos. O objetivo de nossa exposição é, a partir de modelos de análise fílmica propostos por autores como Jacques Aumont (1995), Francis Vanoye (1994) e David Bordwell (2008), elaborar a análise do filme supracitado, parte de nosso corpus de pesquisa de mestrado, levando em consideração a indústria na qual o longa-metragem estava inserido – a Boca do Lixo (Abreu, 2006) – bem como a atuação da Censura do período. É importante entender que, uma vez submetidos à Censura, os filmes podiam sofrer interdições parciais ou totais: enquanto as primeiras eram conhecidas geralmente por cortes, dando-se por exclusão de entonações, gestos, posturas e falas, tanto em partes de sequências quanto em sequências inteiras do filme, as segundas proibiam qualquer exibição da obra, sem direito a modificações, no território nacional (FAGUNDES, 1974). Entre os critérios legais para as interdições totais ou parciais de obras, figurava um grupo referente ao confrontamento de princípios éticos – divulgação de “maus costumes”, ofensa ao decoro público, fatores capazes de gerar angústia. Além desse, havia dois outros grupos de critérios, que se concentravam na instigação contra a autoridade e o atentado à ordem pública, de um lado, e a oposição aos direitos e garantias individuais – ofensa a coletividades ou à religião –, de outro (FAGUNDES, 1974). Nota-se a ambiguidade desses fatores, apontada por autores como Cristina Costa (2006) e Simões (1999) como fonte de arbitrariedades por parte dos censores e falta de critérios mais precisos e formalizados. Diante do exposto, perguntamo-nos: qual é a estrutura narrativa e diegética apresentada, como e em que espaços é representado o corpo feminino e quais as considerações dos censores a esse respeito? |
|
Bibliografia | ABREU, Nuno Cesar. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2006.
|