ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Reverberações do noir nas GNs e no Cinema atual: dark cities |
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Autor | Denise Azevedo Duarte Guimarães |
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Resumo Expandido | O artigo centra-se na observação de como a filmografia ligada ao universo de um tipo de quadrinhos, as graphic novels, tende a marcar sua presença num nicho expressivo da indústria cinematográfica mais recente. Com suas cidades sombrias e seus heróis problemáticos, tais produções apresentam ostensivas reverberações do estilo noir e dos filmes do neo-noir. As GNs são realizações estéticas da chamada arte sequencial - que Will Eisner elevou ao patamar da Nona Arte. Em 1978, o artista publicou Um Contrato com Deus - considerada a primeira obra do gênero. O selo de graphic novel foi colocado na intenção de distingui-la do formato dos quadrinhos tradicionais. As tramas são mais complexas, com temáticas mais adultas e apresentam heróis ambíguos que não se ajustam a maniqueísmos. As narrativas ficcionais do estilo noir ocorrem no espaço noturno e conturbado das dark cities: ambientes emblematizados pela Gotham City ou por Sin City. Uma adaptação atual e paradigmática, baseada nas narrativas gráficas do Spirit (personagem criado por Eisner há sessenta anos) é o filme de Frank Miller, The Spirit (2008). A obra de Eisner também inaugura o gênero chamado noir comics, aproximando-se do film noir e com tons expressionistas; o que permite que o surgimento das GNs reelabore um conceito pessimista, típico da filmografia subsequente à Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um visual marcado pela iluminação de alto contraste em preto e branco, as narrações em off ,os roteiros policiais cheios de reviravoltas e seus detetives cínicos e antipáticos, sempre cercados por femmes fatales. Um exemplo recente do interesse pelo tema é o livro How to Draw Noir Comics: The Art and Technique of Visual Storytelling, de Shawn Martinbrough, publicado em 2007. É nítida a semelhança entre a capa do referido livro e a postura de Humphrey Bogart no filme O Falcão Maltês (John Huston - 1941), um dos clássicos do gênero, dentre os quais estão: Pacto de Sangue (Billy Wilder -1944), Interlúdio (Alfred Hitchcock -1946), O Terceiro Homem (Carol Reed -1949), A Noite e a Cidade (Jules Dassin -1950), Selva de Asfalto (John Huston -1950), No Silêncio da Noite (Nicholas Ray-1950),Uma Rua Chamada Pecado (Elia Kazan -1951), A Marca da Maldade (Orson Welles - 1958), entre outros. Tais filmes, em geral, são adaptações das novelas policiais de sucesso, principalmente dos autores Raymond Chandler, James M.Cain e Dashiel Hammett. Vale salientar, também, o então inovador uso da profundidade de campo, em filmes como Cidadão Kane (1941) e Soberba (1942) - ambos de Orson Welles. Sendo um marcante estilo de época, o noir tem sido continuamente revisitado por cineastas da atualidade. Os diretores podem até adicionar cores à fotografia clássica do período anterior, marcada pelo preto e branco, mas continuam a enfatizar o uso das sombras e do contraste entre o claro e escuro. O neo-noir é a apropriação atualizada do gênero, com filmes como: Chinatown (Roman Polanski -1974), Blade Runner (Ridley Scott -1982), Os Imorais (Stephen Frears-1990), Fargo (Joel e Ethan Coen -1996), Los Angeles Cidade Proibida (Curtis Hanson-1997), Cidade das Sombras (Alex Proyas-1998), Cidade dos Sonhos (David Lynch -2001), Femme Fatale (Brian De Palma-2002), entre outros. As dark cities, típicas de tais filmes, com seus espaços urbanos noturnos e violentos, além do clima de mistério, inquietação e ambiguidade, têm tomado de assalto as telas contemporâneas. Investigar os reflexos dos referidos filmes nas adaptações das narrativas sequenciais impressas implica a apreensão das sutilezas icônicas de uma graphic novel que deu origem a um filme. O processo envolve a contextualização de variados efeitos, desde o puramente emocional até elaborações metafóricas e simbólicas. São tais estratégias miméticas astuciosas que se pretende explorar aqui, com ênfase nas adaptações fílmicas abordadas, em termos do seu diferencial técnico a serviço da estética noir ou neo-noir. |
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Bibliografia | EISNER, Will. Narrativas Gráficas: princípios e práticas da lenda dos quadrinhos. São Paulo: Devir, 2008.
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