ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A distribuição nos cineclubes nos anos 1980: o caso do CAM |
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Autor | Marina da Costa Campos |
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Resumo Expandido | Em 1977, estudantes de medicina, jornalismo e demais cursos da Universidade Federal de Goiás (UFG), envolvidos com o movimento estudantil e a cinefilia, transformaram o Diretório Setorial da Área de Ciências Biológicas (medicina) em um espaço de exibição e debate de filmes. Em 1978, o grupo formado por Lourival Belém Júnior, Ricardo Musse, Herondes César, Leonardo de Camargo, Benedito Castro, entre outros, fundou o Cineclube Antônio das Mortes.
Entre 1977 e 1987, o CAM desenvolveu as atividades de exibição e debate de filmes; a pesquisa das estéticas cinematográficas; e a produção de filmes experimentais. Este trabalho analisará o processo de distribuição de filmes para os cineclubes do país, tendo como estudo de caso o CAM. A entidade goiana tinha como objetivo exibir todos os tipos de cinematografias possíveis. Para isto, recorria aos empréstimos de curtas e longas metragens principalmente das embaixadas, da Embrafilme e da Dinafilme, sendo as duas últimas as principais fontes de filmes para os cineclubes brasileiros na década de 1970 e 1980. Neste período, a relação do movimento cineclubista com o circuito distribuidor apresentou momentos de euforia e de frustração que influenciaram na decadência do movimento na década de 1990. A expectativa de uma distribuidora independente (Dinafilme) que suprisse as demandas de filmes aos cineclubes logo foi substituída por uma crise estrutural e financeira, pois esta distribuidora “nunca se mostrou viável sob o ponto de vista econômico e logístico” (GATTI, 1997, p.130). A Embrafilme ofereceu aporte fílmico para os cineclubes, mas era encarada pelo Conselho Nacional de Cineclubes como uma “concorrente” da Dinafilme, e que “deveria” se ocupar com o mercado comercial, “de renda segura, inclusive com a distribuição para emissoras de TV” (VISÃO, 1978, p.75). Entre outras dificuldades, os cineclubes também tiveram que se adaptar à escassez do 16mm, enveredando-se para o lado do vídeo. Outros passaram a equipar suas salas com equipamentos profissionais em 35mm ou passaram a ocupar salas de cinema comerciais que faliram neste período. No caso aqui específico, o Cineclube Antônio das Mortes apresentou algumas características do movimento cineclubista, no que se refere à distribuição e exibição, como o uso preponderante do 16mm e as dificuldades com a escassez da bitola; os obstáculos em se adaptar as novas tecnologias; a censura que apreendia os filmes; o engajamento político; e o distanciamento dos grandes pólos de produção e distribuição. No entanto, alguns aspectos da dinâmica do CAM podem ajudar a pensar o movimento cineclubista deste período de uma forma menos generalista. A utilização do 16mm não era uma questão ideológica para o grupo, mas de uma condição de existência. O cineclube também almejava ter um projetor 35mm, porém o que era possível materializava-se na outra bitola. O grupo recorria aos filmes da Embrafilme, embora sofriam com atrasos na obtenção de cópias. Tais problemas foram menores em relação à Dinafilme, que além da demora do transporte, não possuía um catálogo de filmes que atendesse às necessidades do CAM. Estas necessidades constituíram no ponto de conflito entre o CAM e o CNC, visto que o grupo goiano não seguia as orientações do Conselho. Exibia filmes do cinema nacional, produções independentes, mas dava a mesma atenção aos filmes estrangeiros – contrariando a entidade. O CAM acreditava que era preciso oferecer à população o contato com todas as obras importantes do cinema, independente da origem e dos temas abordados. Para o grupo, o engajamento político era inerente à nacionalidade do filme. Estas e outras singularidades devem ser consideradas não somente sob o ponto de vista do CAM, mas dos cineclubes brasileiros da época, pois podem oferecer parâmetros para novas leituras da história do movimento no país, assim como da própria história do cinema brasileiro. |
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Bibliografia | AMANCIO, Tunico. Pacto cinema-Estado: os anos Embrafilme. In: Revista Alceu. Rio de Janeiro: v.8, n.15, p.173 a 184, jul./dez., 2007.
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