ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Extra-Campo: metodologia possível para a abordagem do invisível |
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Autor | Ricardo Weschenfelder |
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Resumo Expandido | Nesta comunicação proponho a construção de um esboço de metodologia para a análise do extra-campo ou o fora-de-quadro no audiovisual que dialogue com três linhas teóricas apresentadas a seguir. O estudo é parte da minha pesquisa de doutorado sobre o objeto em questão.
Em McLuhan (1993), cada meio reconfigura o ambiente comunicacional, criando novas formas de sensorialidade. O espaço visual fragmenta, recorta e espacializa, enquanto que o acústico integra, interconecta. O autor propõe a noção de “intervalo ressonante”, que seria o limiar, o limite invisível entre o espaço visual e o acústico. Irene Machado (2011) esclarece que a noção de espaço em McLuhan é de ambiente sensorial, de simultaneidade entre percepções espaciais. O espaço, visto nessa perspectiva, não seria o lugar de preenchimento e confinamento de coisas, de dados. O espaço é, ao contrário, o ambiente, maior, ressonante, sensorial. O extra-campo no cinema é resultado de um enquadramento que determina o campo visual da imagem, logo, o que eu chamo de “imagem invisível”, seguindo McLuhan, seria da ordem do espaço acústico, espaço esse, em que dois ambientes estão presentes, interligados, materializados no mesmo tempo. O extra-campo tomado como espaço acústico ressonante está sempre em movimento reflexivo: reverbera o que está fora da imagem ao mesmo tempo em que o fora ecoa para dentro do plano cinematográfico. As molduras, para Kilpp (2010), são territórios de significação. A “metodologia das molduras” procura, principalmente, entender como se produzem os agenciamentos (emolduramentos) desses territórios audiovisuais entre autor e espectador. Nas molduras, panoramas ou frames são realizados diversas formas de montagem e agenciamentos subjetivos ao espectador. Kilpp pesquisa como as ethicidades (construções audiovisuais) atualizam-se em diferentes molduras e moldurações. Desse modo, toda imagem enquadrada é uma ethicidade tanto quanto o que está fora dos limites do quadro. As moldurações são montagens técnicas e estéticas que são realizadas no interior do quadro, como por exemplo, por meio de elementos cênicos presentes nas ethidades, tais como espelhos, janelas e portas. A metodologia aborda, ainda, o espectador e o pesquisador como molduras entre outras molduras técnicas e imaginárias. Qual a natureza da ‘imagem invisível’?Em que ela se diferencia da imagem vista?Em que momento a imagem vista se torna não-vista?A natureza das coisas, segundo Bergson, se difere, mas não em termos de oposição e sim em termos de coexistência, o que ele chama de misto. O misto é o que se difere em duas tendências de natureza: atual e virtual. O atual é da natureza do espaço. O virtual, a natureza temporal. O atual é o que fixa, presentifica-se como atualidade, como o tempo cronológico. O virtual é o tempo como tendência, que dura. O extra-campo é, sobretudo, duração. A imagem vista e a não-vista diferenciam-se mais em termos de tempo, sendo uma a tendência da outra. Quando, por exemplo, a câmera movimenta-se pelo espaço, o não-visto (está contido) é uma tendência do visto, ainda vai ser visto. Quando nos é mostrado um espaço do cenário que ainda não tinha sido visto, mas que sempre esteve lá, processa-se a atualização do virtual. Assim, visto e não-visto, nos termos de Bergson, não são naturezas que se dividem espacialmente, como se existisse uma fronteira – dentro e fora - que separasse os dois campos. São, por outro lado, tendências que duram, que se diferenciam de si mesmas, que estão sempre em movimento de mudança, por dentro. O plano-sequência, por exemplo, é um desses casos em que o extra-campo manifesta-se na sua própria diferenciação e duração: o presente é prolongado (uma construção de presente) ao mesmo tempo em que está sempre passando, se diferenciando como virtualidade, como devir. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O Olho interminável - Cinema e Pintura. São Paulo: Ed. Cosac Naify, 2004.
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