ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Imagens fantasmáticas da colonização do Congo (RDC) |
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Autor | Emi Koide |
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Resumo Expandido | O presente trabalho visa compreender o recente fenômeno da prática da pesquisa histórica e de arquivo sobre o legado colonial da República Democrática do Congo na arte contemporânea. Desde 2000, há um crescente número de artistas internacionais cujos trabalhos – em fotografia, vídeo, vídeo-instalação, filme – tratam, cada qual ao seu modo, de diferentes aspectos da história colonial e pós-colonial congolesa e de sua relação com a atualidade.
Por um lado, constatamos a presença cada vez maior de artistas cujas obras engajam pesquisas sobre a representação histórica e sobre o arquivo de eventos passados, sobretudo em trabalhos baseados em suportes fotográficos e audiovisuais. Segundo Foster (2004), há um impulso arquivístico que anima o cenário da arte contemporânea, criando novas informações históricas, tornando presente fatos e objetos perdidos e geralmente ignorados pela história oficial, ou ainda questionando o próprio estatuto do arquivo. Se o uso do arquivo tem sido cada vez mais tratado por críticos em debates sobre a arte contemporânea e a produção audiovisual, a pesquisa histórica sobre arquivos coloniais realizada por artistas em suas obras ainda é objeto de poucos escritos e discussões. Tal como observa Godfrey (2007), em um artigo intitulado “The Artist as Historian”, para além do uso direto de imagens de arquivo, da investigação ou da criação de arquivos, muitos artistas têm se dedicado à pesquisa histórica, sendo que suas obras questionam a própria representação e o discurso da história. Por outro lado, a história da República Democrática do Congo tem sido revisitada não somente por diferentes historiadores, mas também por artistas contemporâneos, sendo objeto de disputas políticas e ideológicas no contexto pós-colonial. Imagens do Congo Belga, ou hoje a República Democrática do Congo, parecem ocupar um lugar de destaque na produção artística e intelectual contemporânea que lida com os espectros e fantasmas da colonização. A história do Congo ou uma certa “paisagem discursiva” imaginária sobre este vasto país parece efetivamente assombrar continuamente o Ocidente (DUNN apud BOECK, 2012, p.2). O Congo do rei belga Leopoldo II, das viagens exploradoras do inglês Henry Morton Stanley, do Coração das Trevas (1902) de Joseph Conrad, da Conferência de Berlim, da exploração de marfim e borracha, da barbárie colonial, tornou-se um “tópos emblemático no imaginário coletivo ocidental, representativo do processo histórico da colonização” (BOECK, 2012). A vídeo-instalação intitulada An Italian Film (África Adio) de 2012, do artista Mathieu Kleyebe Abonnenc, originário da Guiana Francesa, trata da exploração do cobre na região de Katanga pelos belgas como lugar representativo da violenta empreitada colonial juntamente com a crescente industrialização que ocorreu na passagem do século XIX para o XX. Embora não utilize diretamente imagens de arquivo, a obra implica uma extensa pesquisa histórica. O filme dialoga também com o controverso documentário Africa Addio (1966) de Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi. Passado e presente se relacionam, a violência da exploração e do processo de mineração liga as metrópoles européias e as regiões que foram palco de guerras contínuas e conflitos pelos minérios. O Congo teve um lugar privilegiado nas lutas pela descolonização e independência. Segundo Fanon (1961, p. 217), que foi amigo de Lumumba, o líder congolês encarnava a esperança e o anseio pela liberdade para o Congo e para o continente africano. Lumumba é um dos espectros que rondam esta retomada da história congolesa não exorcizada. Spectres (2011) do artista Sven Augustijnen trata justamente da culpabilidade de belga no assassinato do líder congolês, elegendo como guia de seu filme um personagem controverso, Jacques Brassine – que foi funcionário do governo colonial belga Congo, e que se dedicou a negar sistematicamente a culpabilidade belga no caso Lumumba. Este trabalho também pressupõe uma considerável pesquisa histórica. |
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Bibliografia | AUGUSTIJINEN, Sven. Spectres. Bruxelles: ASA Publishers, 2011.
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