ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A representação do home front em "Desde que Partiste" |
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Autor | Celso Fernando Claro de Oliveira |
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Resumo Expandido | Ao declarar guerra ao Eixo, envolvendo-se oficialmente na Segunda Guerra Mundial em 1941, os Estados Unidos precisaram organizar-se rapidamente para o combate, tanto nas frentes de batalha quanto internamente – uma vez que o envolvimento da população civil nas ações do esforço doméstico de guerra, também conhecido como home front, era considerado essencial. Entretanto, conscientizar o cidadão estadunidense a “fazer a sua parte” para uma vitória do país não foi uma tarefa fácil.
Autores como Michael Adams (1994) e Kenneth Paul O’Brien e Lynn Hudson Parsons (1995) argumentam que os Estados Unidos não estavam preparados para se envolver em um conflito de escala global na transição dos anos 1930-1940. O país ainda sentia os efeitos da Crise Econômica de 1929, de modo que as políticas isolacionistas ganharam força, defendendo a ideia de que o governo deveria se retirar de debates de âmbito mundial para investir seus esforços na solução de problemas internos. Contudo, essa postura não acelerou o processo de recuperação e contribuiu para difundir a ideia de que a guerra na Europa não era algo que dizia respeito aos Estados Unidos. Nesse cenário, mobilizar a população civil e fazer com que ela se identificasse com o conflito era uma tarefa tão importante quanto complicada de se resolver. Buscando um resultado rápido e em larga escala, o governo estadunidense aliou-se à Hollywood, uma vez que o cinema era considerado a mídia mais importante e influente de sua época, segundo salientam Clayton R. Koppes e Gregory D. Black (1990) e Pedro Antonio Tota (2004). Para tanto, foi formulado em 1942 o Manual for the Motion Picture Industry (MMPI), uma cartilha de instruções para os estúdios que buscava responder à seguinte pergunta: “este filme ajudará a vencer a guerra?” O texto então elencava uma série de orientações sobre como os filmes deveriam abordar essa temática, tanto em produções ambientadas na Europa quanto nas ambientadas nos Estados Unidos. O manual constantemente reafirma a importância de Hollywood junto à população civil, já que os filmes sobre o home front teriam como objetivo “esclarecer” e “explicar” ao cidadão comum qual era seu papel na guerra. A respeito da situação interna, o documento discorre sobre a importância de veicular a imagem dos Estados Unidos como um “melting pot” onde todas as pessoas convivem harmonicamente em igualdade e gozando em plena liberdade de seus direitos. Além disso, incetivava representações “positivas” do mercado de trabalho, da família, dos trabalhadores voluntários, entre outros elementos-chave para o esforço doméstico. O presente trabalho traz parte dos estudos iniciais sobre a representação do home front no filme “Desde que Partiste” (John Cromwell, 1944), cuja trama é centrada no cotidiano de uma mãe e suas duas filhas após o marido ser convocado para a guerra. O filme aborda diversos dos temas sugeridos pelo MMPI, como o alistamento, os racionamentos, as sublocações residenciais, a contenção de gastos e as relações interraciais no cotidiano das pessoas comuns durante o conflito. Além disso, há referências constantes a elementos considerados pelo documento como “tipicamente estadunidenses”, como a igualdade, a defesa dos ideais democráticos e a religiosidade. Valendo-se do estudo sobre a relação do filme com seu contexto de produção, das características do gênero “drama” na narrativa clássica hollywoodiana, das fontes disponíveis e das possibilidades de se analisar a recepção da produção pelo público à época, optou-se pelo aporte teórico da História Social do Cinema. A partir do conceito de representação social elaborado por Ciro Flamarion Cardoso e adaptado para o trabalho de análise fílmica por Alexandre Busko Valim (2006), pretende-se analisar como os elementos fílmicos contem cargas de informação que são utilizadas para veicular valores, normas e ideias ao público por meio da narrativa fílmica. |
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Bibliografia | ADAMS, Michael C. C. The best war ever: America and World War II. Baltimore: The John Hopkins University Press, 1994.
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