ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Ensaísmo e Autobiografia nos Documentários de Ross McElwee |
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Autor | Gabriel Kitofi Tonelo |
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Resumo Expandido | Ross McElwee é um documentarista norte-americano nascido em 1947. Iniciou sua obra cinematográfica no final da década de 1970. A partir do lançamento de seu primeiro longa-metragem, "Sherman’s March" (1986), consolidou sua obra como diretor de documentários. Dirigiu sete longas-metragens até o momento, sendo o último "Photographic Memory", lançado no ano de 2011.
Os filmes de McElwee são frequentemente analisados sob a ótica das possibilidades da representação autobiográfica no cinema de não-ficção e são geralmente referenciados em bibliografia norte-americana. A questão autobiográfica que envolve a carreira cinematográfica de McElwee não se resume a uma estrutura autorreferente fechada em cada narrativa (apesar de assim também funcionarem), mas, sim, a partir da consideração de sua obra em uma linha cronológica. Uma das singularidades da obra do diretor reside na capacidade de fazer com que sua própria figura e o das pessoas com quem se relaciona adquiram espessura de personagens efetivamente, criando pontos de conflito e resolução a cada lançamento do diretor, em uma espécie de processo autobiográfico contínuo realizado por mais de trinta anos. Narrativamente, o emprego de uma metodologia vérité nos documentários do diretor estabelece-se como contraponto a um trabalho de emissão direta de comentários da parte do cineasta, principalmente através de sua narração em over. As narrações de McElwee em seus documentários são construídas através do desenvolvimento de uma argumentação em voz over personificada pela qual o diretor emite comentários diretamente ao espectador. McElwee coloca-se como um sujeito indagador, reflexivo, que se dá o luxo de equivocar-se, que rememora seu passado e que faz projeções sobre o futuro, adotando um paralelismo entre uma espécie de peregrinação interior e a argumentação sobre questões do mundo histórico. Esse tipo de construção argumentativa faz com que os filmes do diretor sejam frequentemente analisados como representantes da forma ensaística aplicada ao cinema, ou, o Filme-Ensaio. O Filme-Ensaio é definido, pela grande maioria dos autores, a partir da definição própria da tradição literária do Ensaio. Adorno, em “O Ensaio como Forma” (2003), sustenta o método antissistemático, subjetivo e “não-metódico” como a premissa radical dos textos ensaísticos. Da mesma forma, o ensaio comporta-se como um contínuo questionamento, não necessariamente encontrando “soluções”, mas incorporando a busca pela verdade como elemento construtivo principal (LOPATE, 1996), ou, segundo Lukács (2008), “O ensaio é um julgamento, mas o essencial nele não é (como no sistema) o veredicto e a distinção de valores, e sim o processo de julgar.”. Renov (1989) aponta que o Filme-Ensaio entrelaça explorações pessoais com explorações sócio-históricas, vindicando subjetividade em uma busca por verdade. De fato pode-se observar na argumentação da voz over de McElwee uma persona ativa e cambiante, fazendo do processo fílmico uma busca pessoal explicitada pela reflexão de sua voz e de seu corpo nas narrativas, contrapondo-a com temas sociais e históricos determinados em cada um dos filmes. A liberdade através da qual McElwee desempenha um papel de argumentação ensaística também é notada como um exercício contínuo e que se desenvolve a cada filme do diretor. Torna-se interessante notar como o amadurecimento do diretor como indivíduo é confluente com o aprofundamento das indagações apresentadas na argumentação autorreflexiva que desenvolve em seus filmes, partindo do pressuposto que a temática que envolve seus filmes imbrica predominantemente relações acerca de sua vida pessoal, fazendo com que a expressão “Viver ou Filmar?”, título de uma monografia sobre a obra do diretor (MINNICH, 2008) seja, mais do que nunca, premente. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. O Ensaio como Forma. In “Notas de Literatura 1”. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2003.
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