ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A crítica de Jean-Claude Bernardet e o Cinema Novo no jornal Opinião |
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Autor | Margarida Maria Adamatti |
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Resumo Expandido | Através do convite de Paulo Emilio Salles Gomes, Jean-Claude Bernardet começa a escrever para o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo ainda nos anos sessenta, iniciando, assim, uma intensa carreira de crítico, que se estende por várias décadas até os dias atuais. Como professor afastado da Universidade de Brasília pelo regime militar e enquanto ex-perseguido político, ele colabora com jornais ligados à resistência contra a ditadura, na chamada imprensa alternativa. No jornal alternativo Opinião (1972-1977), Bernardet escreveu muitos artigos que se tornaram referência para o pensamento cinematográfico brasileiro.
Já num primeiro momento, Jean-Claude Bernardet tem seu caminho cruzado com a eclosão do Cinema Novo e desse encontro surge um modelo de crítica de cinema que sofre uma guinada, saindo da atitude impressionista em direção a uma postura de intervenção sobre a realidade brasileira. Afastando-se de uma fruição contemplativa de filmes estrangeiros, esse novo padrão de crítica não toma mais os filmes como obras de arte universais e descontextualizadas do momento histórico. A postura é de participação na produção e na circulação de ideias sobre a cinematográfica brasileira, afinal, segundo Jean-Claude Bernardet (1978, 1979) o crítico deve falar preferencialmente sobre o contexto no qual está inserido. Como consequência desse processo, a relação com o cinema brasileiro passa pela militância, na qual o cronista se vê como participante da cultura nacional, cuja tarefa é auxiliar na transformação da sociedade, debate que caracteriza o Cinema Novo e a efervescência cultural da época. A partir do trabalho iniciado no jornal A última hora, Bernardet envereda por um tipo de crítica que ele denomina conteudística, desvendando o discurso e o processo de construção do filme, com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento crítico do público preso ao enredo. Ele foi o único crítico de cinema dos anos setenta que analisou sua própria trajetória, exemplificando também as mudanças pelas quais a crítica passou, especialmente em dois livros Trajetória Crítica (1978) e Cinema brasileiro: propostas para uma história (1979). A crítica de cinema de Jean-Claude Bernardet em Opinião pode ser chamada de conteudística, mas confere atenção especial aos processos estilísticos dos autores brasileiros daquele momento, tudo isso sem perder de vista o tom didático para conseguir conscientizar o leitor sobre o conteúdo dos filmes. Em pauta não estava somente a produção brasileira e suas mensagens, mas também as relações com a política cinematográfica. Os artigos são escritos em tom ensaístico, fugindo da abordagem “neutra” do discurso jornalístico. Compondo análises no calor do momento, durante as estréias dos filmes, ele antecipou questões importantes que influenciaram não somente o debate dos demais críticos ao longo dos anos setenta, mas também a produção cinematográfica. Escritos em tom dialético, os textos desvendam os mecanismos sociais e de fabricação da realidade no cinema. A comunicação busca trilhar o pensamento cinematográfico deste crítico no contexto da resistência cultural da imprensa alternativa, com atenção ao estilo de sua escrita. Centramos a análise na relação que ele constrói com o Cinema Novo ao longo dos anos setenta. Como interlocutor do Cinema Novo, Jean-Claude Bernardet continua a examinar a produção dos veteranos cinemanovistas em Opinião, fazendo algumas críticas ao movimento. A apresentação procura pensar também as maneiras encontradas pela intelectualidade do período para se debruçar diante de si mesma, fazendo uma auto-avaliação. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude (org.) Anos setenta: cinema. RJ: Europa, 1979-1980.
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