ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | ORSON WELLES, AUTOR DO "QUIXOTE" |
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Autor | Adalberto Muller Junior |
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Resumo Expandido | Dentre os inúmeros projetos inacabados de Orson Welles (cf. DRÖSSLER 2004; RIPPY 2009), DOM QUIXOTE ocupa sem dúvida um lugar especial. Havendo trabalhado nesse projeto ao longo de quase 20 anos (aprox. 1952-1972), Welles, misteriosamente, deixou-o inacabado, mesmo quando muitas condições foram favoráveis à sua finalização. A crítica wellesiana que se debrouçou mais detidamente sobre o assunto (ROSENBAUM 2007; RIAMBAU 2004) considera que talvez fosse até um desejo do diretor deixá-lo inacabado. Ora, em 1992, na Exposição Universal de Sevilha, Jesús Franco - com a colaboração de Oja Kodar, última companheira de Welles, então detentora dos direitos sobre os filmes inacabados - apresenta uma versão plausível, mas pouco convincente, do filme editado. Assistentes e pessoas próximas de Welles, no entanto, vão contestar tal versão, inclusive apresentando publicamente fragmentos não usados na montagem de Franco/Kodar. Queremos demonstrar aqui que é justamente o caráter de inacabamento de DOM QUIXOTE a faceta mais produtiva de sua obra hoje, na medida em que levanta questões bastante contemporâneas sobre autoria, modos de produção audiovisual, relações interculturais, arquivos, arqueologia, intermedialidade.
A pesquisa (realizada) nos arquivos de Orson Welles e em algumas cinematecas, onde documentos de produção, cartas, fotos e fragmentos do filme estão depositados, permite-nos, até o momento, apresentar algumas hipóteses para um trabalho em curso (e do qual apresentaremos os primeiros resultados aqui), a saber, o da reconstituição, quanto ao QUIXOTE de Welles, daquelas categorias usadas por Catherine Benamou a respeito do projeto (também inacabado) de IT'S ALL TRUE: a de "endotexto", ou "the first sketch of the film text... text-in-the-making" (BENAMOU, 2007: 15), considerado aqui também como um texto originalmente sem "sutura" autoral; e a do "exotexto", ou a reconstituição dos "pontos de tensão e nós de fricção que ajudam a diferenciar o projeto de seu intertexto circundante [surrounding intertext]" (id.:163). Em outros termos, queremos demonstrar que, se é impossível reconstitui-se o que seria, fielmente, o DOM QUIXOTE de Welles, há dados objetivos para entender-se 1) em que condições o filme foi realizado por Welles e quais as características desse filme; 2) que princípios nortearam a adaptação (ou transcriação) wellesiana do romance de Cervantes (inclusive com a obra apócrifa de Avellaneda); 3) como se deu o processo de produção da versão de Franco/Kodar; 4) como interpretar as cenas "apócrifas" do QUIXOTE de Welles. Esses são alguns pontos sobre os quais se pode discorrer brevemente, de modo a apresentar a ponta de um Iceberg gigantesco, ou a entrada para um labirinto. Mas desde já, parece-nos, todos os pontos acima levantados indicam que, de onde quer que se contemple o DOM QUIXOTE wellesiano, cria-se uma série de relações significativas com a obra cervantina e sua exegese; a ponto de se poder formular a hipótese, de acordo com um ensaio ficcional de Jorge Luís Borges, de que Orson Welles é o autor de DOM QUIXOTE tanto quanto Pierre Menard (BORGES 1944). |
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Bibliografia | BENAMOU, Catherine L. It's all true: Orson Welles's Pan-American Odyssey. Berkeley: University of California Press, 2007.
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