ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Dois estilos de construção narrativa de som no cinema norte-americano |
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Autor | Fabrizio Di Sarno |
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Resumo Expandido | No filme “A Hora mais Escura” (Zero Dark Thirty, Kathryn Bigelow, 2012), podemos observar uma construção narrativa em estilo documental. Um dos princípios básicos do filme é apresentar ao expectador a visão mais realista possível do processo de caça ao terrorista Osama Bin Laden pela inteligência do governo norte-americano. Caminhando sempre na linha da neutralidade, a construção sonora do filme (vencedor do Óscar de melhor edição de som em 2013), se mantém quase sempre preservando uma estética naturalista. A ideia é não apresentar um som muito ostensivo, característico do hiper-realismo, o que quebraria a estética documental e a neutralidade narrativa do filme. A mixagem e a edição de som evitam apresentar diferenças dinâmicas muito intensas, o que revelaria um apelo dramático que é cuidadosamente evitado pelo filme. O filme também mantém esta estética linear na trilha sonora, a cargo do compositor Alexandre Desplat. Deste modo, o som do filme se mantém coerente com o próprio contorno emocional do filme, que não apresenta grandes apelos emocionais para nenhum dos lados envolvidos no conflito internacional. A protagonista Maya (Jessica Chastain), apesar de ser a mentora da caça ao líder terrorista, sofre apenas riscos calculados e não se envolve nas cenas mais dramáticas de ação, de modo a não empurrar o expectador identificado para um dos lados ideológicos do conflito.
No outro extremo temos o filme Rambo 4 (Rambo, Sylvester Stallone, 2008), muitas vezes abordado como referência de edição de som hiper-realista para cinema. No filme, o que devemos levar em conta é o ponto de vista do protagonista Rambo, um homem forte e rude que resolve as questões com brutalidade. O cuidado do filme, neste sentido, é trabalhar essa “rudeza” em todos os aspectos estéticos do filme. Desde a fotografia básica e sem refinamentos, até o som: forte, arrebatador e, sem dúvida, nem um pouco sutil. Durante o filme, a margem dinâmica atinge picos impressionantes até mesmo para um filme Hollywoodyano. Em todo momento torna-se claro que o efeito dramático é mais importante do que o realismo. Durante as batalhas o expectador é envolvido por uma sinfonia de ossos humanos se quebrando e tiros de metralhadora sendo disparados. Além disso, podemos ouvir os sons de todos os tipos de armas de fogo, explosões fortíssimas, lança-chamas e até mesmo cortes de carne humana à base de facadas. Tudo isso envolvido em um background de gritos de guerra proferidos pelos combatentes em ação e, principalmente, pelo próprio Rambo (Sylvester Stallone). A comparação entre dois filmes tão intensamente ligados aos respectivos estilos de som nos ajuda a entender as funções diferentes almejadas pelas escolas de som naturalista e hiper-realista. No primeiro caso existe a busca pela linearidade dinâmica, pelo realismo sonoro e pela ausência de apelo dramático. No segundo, o que se ouve é um som que chama a atenção do expectador para si, utilizando para isso elementos como amplitude sonora, exploração de regiões de frequências extremas e grande margem dinâmica. Podemos ouvir mais claramente a diferença estética dos dois filmes em cenas que envolvem o mesmo elemento como, por exemplo, uma metralhadora. Esta diferença também nos remete a uma antiga e eterna discussão sobre a porcentagem de som que deve ser captada diretamente ou gravada em estúdio nas produções cinematográficas, discussão presente mesmo em filmes abertamente naturalistas, como ocorre nas cenas em que Maya escreve em um painel de vidro o número de dias em que o líder terrorista continua a vagar livremente pela casa encontrada por ela, um dos raríssimos momentos em que o efeito dramático do som extrapola a necessidade de ser realista em “A Hora mais Escura”. Buscando evidenciar a construção das camadas sonoras que compõem a narrativa de som destas duas produções cinematográficas, esta pesquisa elabora um panorama das diferenças principais entre a edição de som naturalista e hiper-realista. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992.
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