ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O cinema Triângulo (São Paulo, 1923-29), um saco de pancadas revelador |
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Autor | Carlos Roberto de Souza |
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Resumo Expandido | Lentamente vão se constituindo, no universo das pesquisas sobre a história do cinema no Brasil, estudos relativos ao que José Inácio Melo Souza chamou de “espaços de sociabilidade cinematográfica”, os salões de projeção de filmes, os cinemas, em suma. Muitos desses estudos são simplesmente levantamentos de fotografias e listagens de cinemas existentes em diferentes épocas, em diferentes lugares do país. Úteis, sem dúvida, esses levantamentos sugerem outros tipos de abordagem desses lugares de memória. José Inácio em sua pesquisa disponível nas páginas do Arquivo Histórico de São Paulo (www.arquiamigos.org.br/bases/cine.htm) e da Cinemateca Brasileira (www.cinemateca.gov.br) partiu de documentos legais acompanhados de plantas de construção e adaptação de todos os espaços para projeções cinematográficas na cidade de São Paulo entre 1895 e 1929.
A proposta da presente comunicação é fazer um caminho diferente: escolher um único espaço de projeção e, através de fontes primárias (jornais e revistas), buscar características possíveis de contribuir para a definição do que era o espetáculo cinematográfico brasileiro nos últimos anos do cinema silencioso. Meu interesse pelo cinema Triângulo surgiu durante os trabalhos para a pesquisa de pós-doutorado que desenvolvo sobre o impacto da chegada do som no cinema no Brasil. Num primeiro momento, quero investigar como era o uso do som nas salas antes do aparecimento do som eletrificado, como era utilizada a música no acompanhamento dos filmes e quais os eventuais conceitos que críticos e cronistas cinematográficos daquele momento tinham a respeito do assunto. O Triângulo surgiu em 1923 e era uma espécie de filial no cine República (na praça homônima), propalado como o cinema da elite paulistana. Mas o República ficava afastado do centro de São Paulo – na época, o triângulo formado pelas ruas Direita, 15 de Novembro e São Bento. O cine Triângulo ficava no centro nevrálgico da cidade, em plena rua 15, e introduziu um diferencial na diversão cinematográfica paulistana: sessões a partir das 14h00 (os outros cinemas só realizavam sessões noturnas). Recebido com simpatia quando de sua inauguração, o Triângulo em pouco tempo se tornou alvo de críticas unânimes: as instalações eram inadequadas, a frequência não era exatamente familiar, a sevandija abundante caracterizava a pouca higiene e, sobretudo, a orquestra era lamentável e a seleção musical absolutamente inconveniente. E tudo isso no coração de uma metrópole que se ufanava de ser um dos principais centros culturais da América do Sul. A partir de 1926, as reclamações em relação ao Triângulo, inicialmente apenas locais, ampliam-se nacionalmente quando Octavio Gabus Mendes começa a publicar seus comentários na carioca e especializada Cinearte. O Triângulo se transformou num modelo nacional de tudo o que um cinema não deveria ser. Um aspecto também relevante da comunicação será a metodologia no trato com as fontes primárias. Jornais e revistas, geralmente, não noticiam a normalidade. Com relação ao acompanhamento musical dos filmes, por exemplo, salvo raras informações a propósito de uma orquestra aumentada para acompanhar algum filme especial, não encontramos referências aos grupos musicais dos cinemas em geral. É exatamente a propalada ruindade da orquestra do Triângulo que provoca, nos escritos cinematográficos da época, manifestações a respeito de como é e de como deveria ser um adequado acompanhamento musical de filmes. Alguns conceitos formulados nesses escritos serão contrapostos aos emitidos internacionalmente e que podemos encontrar na bibliografia abaixo indicada. |
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Bibliografia | Pesquisa nos seguintes periódicos: Cinearte, Diário Nacional (SP) e Correio Paulistano.
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