ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Sertão-Poesia: |
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Autor | diogo cavalcanti velasco |
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Resumo Expandido | Os Sertões Nordestinos sempre foram construídos, desconstruídos e reconstruídos pelos processos estéticos cinematográficos ao longo da história do cinema brasileiro, o que demonstra o diverso quanto aos modos de espacialização de um tipo ideal de espaço qualificado como Sertão Nordestino. Pensar neles é pensar nos Sertões do risco, do corte para abrí-lo, e do rabisco, da tentativa sempre iniciática de apreendê-los e lançá-los em imagens, na busca contínua em atualizar Sertões virtuais, de encontrar os seus devires que o cinema fabrica na sua forma própria de máquina espacializante. Por conseguinte, entre Nordesterns, Deuses e Diabos, Suelys e Chicós, as possibilidades de espacialização do Sertão Nordestino no cinema nacional continuam longes do esgotamento e se abrem para novos processos de construção, ressignificando Sertões-Prosa e Sertões-Poesia.
Na teoria cinematográfica, a separação entre poesia e prosa no cinema foi utilizada pela primeira vez pelos formalistas russos. Viktor Sklovski escreveu que a distinção se dá pelos domínios técnicos e formais do cinema poético, que se sobrepõem aos domínios semânticos. Esse caráter da experimentação também foi decisivo para a reutilização do conceito de cinema de poesia por Pasolini. A solução formal, grosso modo, teria um potencial criativo para ambos. Com um cinema poético, novas formas de espacialização são criadas. Enquanto no cinema de prosa, o espaço é em sua maioria obliterado em função do enredo, o cinema de poesia, ao utilizar diversamente os recursos de percepção/encenação/montagem, promovem relações potentes com ele. Propomos a análise dessas relações no filme "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" (Karim Ainouz e Marcelo Gomes, 2009). A potência visual de arte dos autores vem justamente na forma de ressignificar as imagens clichês do Sertão Nordestino. Promovem uma nova política do Sertão Nordestino contemporâneo em que se propõe uma nova ética do afrouxamento do olhar sobre ele, configuração estética moderna, colocando os motivos visuais pisados na história do espaço como aspectos descritivos de uma nova subjetividade sertaneja, que não oferece verdades, mas apenas promove impressões indiscerníveis entre o real e o imaginário de um viajante. Ao escapar de um encadeamento lógico, “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" é constituído em blocos de sensações, sem fio narrativo explícito, o que lhe dá mais autonomia aos planos e às séries imagéticas. As únicas ligações existentes entre o primeiro e o último plano é: 1 - A construção diegética temporal, 2 - O espaço onde o filme é rodado e 3 - as temáticas constantes com as quais o filme se engaja. Ao invés de procurar as causas ou efeitos dos assuntos tratados no filme, ele vaga, perambula, se movimenta por alguns lugares do interior nordestino, provendo ao espectador longas imagens óticas sonoras puras, e as preenche muitas vezes com campos vazios ou naturezas mortas. Não somos levados pelo filme ao próximo fragmento, mas contemplamos, por isso, a busca por um belo quadro poético na tela, as formas de seus objetos, os movimentos antirrealistas ou a formação de grafismos. A poesia do Sertão, então, se faz, de maneira que o olhar descritivo sobre sua paisagem (natural e social) seja alargada, sem guias para motes rotineiros nordestinos, mas novos-velhos motes poeticamente ressignificados. |
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Bibliografia | LBÈRA, François. Los Formalistas Rusos y El Cine. Barcelona, Ediciones Paidós Ibérica S.A., 1998.
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