ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Cenas aquáticas: Creature from the black lagoon |
|
Autor | Martinho Alves da Costa Junior |
|
Resumo Expandido | Esta comunicação tem como foco a análise da famosa cena aquática no filme Creature from the black lagoon, 1954 de Jack Arnold. Esta cena, poderosa e fortemente estética traz à baila a velha questão entre a bela e o monstro. O desenvolvimento da cena funciona como um balé na qual os personagens espelhados (monstro e bela) se encontram pela primeira vez. A rugosidade da pele da criatura confronta a lisura da pele da amada em amor calado e impossível que se inicia. O nado sincronizado e apaixonado da criatura desvela propriedades puramente cinematográficas.
Este ponto é fulcral para se entender duas outras cenas de filmes oriundos da década de 80 do século vinte e que parecem responder diretamente ao filme de Jack Arnold. Em primeiro lugar Inferno de Dario Argento, 1980. A trama se concentra em Rose Elliot e seu irmão Mark Elliot. Logo nas cenas iniciais Rose começa uma pesquisa, uma vez que ela descobre por um antigo livro que mora exatamente na casa daquela que seria a da mãe das trevas. Segundo as indicações do livro existiria uma chave escondida na casa. Ela então desce até o porão e encontra uma área alagada, inclina-se para espiar e seu chaveiro acaba caindo na água. Há certo espectro do mal nos objetos e lugares nos filmes de Dario Argento, sobretudo a trilogia das mães. A arquitetura e a constituição de diversos espaços são encaradas quase sempre como lugares dominados pela presença das mães. Rose, ao nadar para recuperar suas chaves, encontra um cadáver (ou é encontrada por ele) que boia sempre em sua direção e parece persegui-la. O nado neste caso, diverso do Creature, é exclusivo da mulher que foge desesperadamente daquele corpo inanimado. O filme que é a segunda história de uma trilogia sobre as mães bruxas, inaugurada com a obra-prima Suspiria, 1977 e terminada com La terza madre, 2007 possui elementos que nos levam a pensar nesta relação com o filme de Jack Arnold. Contudo, o filme de Lucio Fulci, Zombi 2, 1979 (embora o filme seja de 1979 sua estreia nos Estados Unidos e na Europa salvo na Itália aconteceu em 1980) mantém uma proximidade interessante com a Criatura. O filme se desenrola a partir da história de Anne Bowles que não tem notícias de seu Pai há três meses. Logo se junta ao repórter Peter West para procurá-lo na misteriosa ilha em Matool, onde ele desenvolvia um trabalho de pesquisa médica, procurando a cura para possíveis mortos-vivos da ilha. A cena aquática no filme de Fulci é profundamente erótica e de modo franco, uma espécie de reescrita da cena do Creature from Black Lagoon. Ao mergulhar no mar, Susan Barret, personagem que, junto com seu parceiro, Brian Hull, aluga o barco para levar o outro casal até a fatídica ilha. Exaurida pelo calor ela decide mergulhar. A exibição de sua preparação para o nado é potencialmente sexualizada: o cinto apertado é aparente no sexo. Ela usa um fio dental e sem a parte de cima, exibe seus seios, tudo remarcado pelos olhares sedentos do repórter. Uma vez no mar ela é atacada por um tubarão, tenta se esconder e acaba por encontrar um zumbi. Este, por sua vez, também a ataca mais de modo a sugerir uma vontade sexual. Este ponto é fundamental na concepção dos zumbis neste filme de Fulci: eles mantêm, talvez ainda mais ao extremo que os homens normais, uma vontade sexual. Susan consegue escapar e o Zumbi, em uma cena formidável, trava uma batalha com o tubarão em uma das melhores cenas jamais feita. Seja como for, a lembrança e a força criada pelo filme de Jack Arnold certamente está presente nestes filmes. Seguramente a cena está presente em outros longas, mas os aqui apresentado me serviram como chaves para a elaboração e compreensão de diversos fatores. A imagem da cena aquática no Creature from the black lagoon persiste e atrai visões díspares. |
|
Bibliografia | AUTRAN, Régis [et al] - Lucio Fulci, Le Poéte du Macabre. Paris: Bazaar&Co, 2009.
|