ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Um diálogo forçado entre os produtores independentes e a TV no Brasil |
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Autor | Márcio Rodrigo Ribeiro |
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Resumo Expandido | O objetivo deste artigo é analisar os primeiros efeitos da Lei 12.485/11 no mercado de produção audiovisual independente no Brasil e na programação das TVs por assinatura no País. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff em setembro de 2011, a Lei 12.485 entrou em vigor um ano depois de sua publicação, estabelecendo, entre outros pontos, que, a partir de 02 de setembro de 2012, os canais de TV por assinatura exibam pelo menos três horas e meia de conteúdo nacional em horário nobre, sendo que metade desta produção deve ser realizada pelas chamadas produtoras independentes, em forma de programas, filmes ou outras manifestações audiovisuais.
A necessidade de aproximação e do estabelecimento de relações mais colaborativas entre os produtores independentes, principalmente ligados ao cinema, e a televisão no Brasil não é percepção nova entre os realizadores cinematográficos locais. Quando, ainda no final dos anos 70, Glauber Rocha cria e apresenta o programa “Abertura”, na TV Tupi, ou Cacá Diegues realiza o longa-metragem “Bye bye Brasil”, discutindo os efeitos da televisão sobre o público nacional, que cada vez mais parece se distanciar do cinema por conta da telinha, já fica demonstrado, mesmo que de maneira implícita, que diretores brasileiros entendiam que um diálogo mais efetivo com a TV seria um dos caminhos mais eficazes, por exemplo, para que o cinema no País tivesse uma presença mais constante entre a população e uma trajetória menos marcada pelas inconstâncias da política e as imposições do mercado distribuidor e exibidor em sua História. A criação da Globo Filmes em 1998, braço das Organizações Globo para o cinema, em um primeiro momento pareceu indicar que, enfim, a aclamada parceria entre TV e a produção independente poderia se concretizar por aqui, a exemplo do que ocorre há décadas em países como a França, o Reino Unido e a Espanha, em que filmes e outros tipos de produção audiovisual são realizados e em grande parte fomentado por emissoras de TV. Na prática, no entanto, não foi isto que efetivamente aconteceu. Clivagens à parte entre produções com ou sem o apoio da Globo Filmes, o fato é que os produtores independentes audiovisuais têm com a Lei 12.485 uma nova oportunidade de conquistarem espaço na janela da televisão, mesmo que a obrigatoriedade da exibição de seus produtos se dê somente nas TVs por assinatura. Enquanto canais da Globosat – empresa empacotadora da mesma Organizações Globo para a área de TV por assinatura – enchem as telas com uma onda de reprises de longas-metragens consagrados como “Carlota Joaquina: Princesa do Brazil” e “Tropa de Elite 2”, somente para cumprir as cotas exigidas pela nova lei, operadoras de canais norte-americanos que compõe a grade da TV no País tentam comprar produtoras brasileiras para assim realizarem e exibirem programas e filmes que tenham mais seu perfil, desvirtuando em grande parte o objetivo da nova Lei que é abrir a TV por assinatura à produção independente brasileira. Analisar os desdobramentos e efeitos da Lei 12.485 no mercado e prognosticar o que deverá acontecer nos próximos anos quando o tempo de exibição de conteúdo de produtoras independentes brasileiras deverá aumentar gradativamente no horário nobre de todos os canais pagos é, portanto, o problema central deste artigo. |
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Bibliografia | BAHIA, L. Discursos, Políticas e Ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2012.
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