ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | As marcas do hedonismo no cinema noir e neonoir |
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Autor | Alexandre Rossato Augusti |
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Resumo Expandido | A proposta deste trabalho é apresentar um recorte de minha tese, intitulada Cinema noir: as marcas da morte e do hedonismo na atualização do gênero. O cinema noir é um gênero controverso, que comporta percepções diversas a respeito de sua constituição. Alguns autores e críticos sequer o consideram um gênero cinematográfico, enquanto outros até o reportam a uma dimensão superior a dos gêneros como habitualmente são compreendidos, dada a complexidade do noir. Dentre as contradições comuns a este debate, surge uma que diz respeito à continuidade ou não do gênero em questão a partir do encerramento de seu período clássico, normalmente compreendido entre 1941 e 1958, como defendem Carlos Heredero e Antônio Santamarina, em seu livro El cine negro: maduración y crisis de la escritura clásica, e Alain Silver e James Ursini, na obra Film noir.
Partindo-se da ideia de que a sociedade contemporânea ocidental é acentuadamente orientada para o individualismo, elege-se o hedonismo como um dos elementos para avaliar o cinema noir em seu período clássico e contemporâneo, a fim de verificá-lo como elemento essencial ao gênero e considerar se as produções compreendidas como neonoir efetivamente poderiam compor uma continuidade do gênero clássico, também sob essa perspectiva. Esse panorama contemporâneo de valorização hedonista, que pode ser percebido no mínimo em âmbito ocidental, ampara em muito as narrativas construídas na atualização do noir. E a identificação da femme fatale como essencial para a constituição do gênero possibilitou considerar o hedonismo como elemento para analisar a constituição do cinema noir tanto em seu período clássico quanto contemporâneo. As estratégias metodológicas para a condução de minha tese são propostas a partir da análise fílmica, objetivando oferecer maior atenção à narrativa e às personagens. As principais orientações são dos autores Jacques Aumont e Michel Marie (2004), no livro A análise do filme, e de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété (1994), em Ensaio sobre a análise fílmica. As tipologias traçadas para o desenvolvimento da tese são formadas, por um lado, pela morte, a violência e o crime e, por outro, pelo hedonismo e a figura da femme fatale. No que se refere a presente demonstração, detém-se à segunda tipologia para a condução dos objetivos do trabalho. Através de uma analogia entre os filmes Gilda (Charles Vidor, 1946) e Estrada perdida (Lost highway – David Lynch, 1997), pretende-se considerar a figura da femme fatale funcionando a partir de uma lógica hedonista, que apoia os parâmetros a partir dos quais funcionam as narrativas do cinema noir e neonoir. Mas existe um redimensionamento de tal estrutura. A femme fatale, que compõe o elemento mais subversivo do gênero e tem como objeto de seu menosprezo o patriarcado masculino, é considerada sempre uma mulher sedutora e perigosa, ameaçadora do patriarcado masculino. No período clássico, entretanto, ela sofre materialmente por tentar se igualar ou mesmo sobrepor ao homem, permanecendo, apesar de tudo, como lembrança espectral e fugidia, conforme defende Slavoj Zizek, na obra Lacrimae rerum: ensaios sobre cinema moderno. Por outro lado, o mesmo autor propõe que, no período contemporâneo, essa mulher se caracteriza por uma agressividade sexual frontal, não só verbal como física. Esse tipo de personagem agora mercantiliza e manipula diretamente a si mesma, triunfando socialmente, porém renuncia a aura indestrutível. A importância da beleza, que vem a serviço do amor e do sexo, assumindo papel incontestavelmente relevante para a abordagem hedonista do noir – principalmente ao funcionar para a femme fatale como uma de suas armas contra o patriarcado masculino –, sobrevive ilesa às décadas relativas às abordagens clássica e contemporânea do noir. Também é uma das responsáveis por projetar a mulher dentro do universo cinematográfico, sendo que a última encontra no noir uma valorização até então não existente em outro gênero. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Texto e Grafia, 2004.
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