ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A encenação pictórica de Philippe Grandrieux: lógica da sensação |
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Autor | Lucas de Castro Murari |
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Resumo Expandido | A presente proposta objetiva explicitar o estilo estético de Philippe Grandrieux, cineasta francês contemporâneo. Minha comunicação irá se concentrar naquilo que chamo provisoriamente de encenação pictórica. A partir de um questionamento do conceito tradicional de mise-en-scène, Jacques Aumont se questiona ao analisar algumas tendências do cinema atual - “Será o fim da mise en scène?” É nessa problematização que o estilo de Philippe Grandrieux se insere. Seus filmes recorrem a novos dispositivos cênicos, operando por construções opacas e narrativas minimalistas. As características do cineasta abordado recorrem à plasticidade da imagem e suas possíveis derivações para confluir em uma natureza essencialmente sensorial. Recursos da linguagem visual como desfoque, desenquadramento e o uso exaustivo do primeiro plano são utilizados em prol das encenações. A movimentação da câmera é realçada, impondo uma nova dinâmica de velocidade, deslocamento e inquietude. Esse conjunto de procedimentos busca a construção de um ritmo específico, que independe de lógicas narrativas, e de texturas, aproximando assim seus planos de outras artes visuais. A composição do quadro lida com a atmosfera, com o clima do plano, bem diferente de uma ontologia realista. Opções técnicas e estéticas que potencializam a expressividade das imagens. Sua filmografia está muito mais próxima de pintores que de cineastas, mais especificamente pintores figurativos. O legado do artista britânico Francis Bacon têm aspectos em comum com a pictoralidade fílmica de Grandrieux. O traço desse pintor influi pela agressividade, pelo impacto. Seu enfoque são tipos humanos ilustrados em condições limites, figurações da tragicidade, histeria e angústia. Francis Bacon pinta anatomias em fluxo, expondo assim as distorções e transfigurações do sujeito-objeto. Essa é a maneira do artista indagar a representação realista da pintura. Nas entrevistas que concedeu a David Sylvester, ele determina ao artista a missão de “remeter o espectador à vida com mais violência” (SYLVESTER, 1995, p. 17), e diz que suas imagens são uma “tentativa de fazer a coisa figurativa atingir o sistema nervoso de uma maneira mais violenta, mais penetrante” (ibidem, p. 12). Para Deleuze “graças às aparências, não há mais história a ser contada, as figuras são libertadas de seus papéis representativos, elas entram em relação direta com uma ordem de sensação celeste” (DELEUZE, 2007, p. 18). Tal frase elaborada pelo pensador em seu livro sobre Bacon encontra correlato nas formas visuais de Grandrieux. Ambos artistas evidenciam naturezas singulares, atípicas e extremas, muito mais preocupados com questões referentes a experiências estéticas rarefeitas e seu conjunto de sensações propiciadas. Existe uma ligação não só de suas imagens, como de suas temáticas lúgubres. A obra de Grandrieux como já dito, recorre a temas minimalistas, porém, enveredam por universos soturnos, personagens envoltos em angustiantes incompletudes. Minha pesquisa busca estabelecer os parâmetros de convergência entre o cinema e a pintura, salientando o diálogo entre dois artistas que trabalham em meios distintos, porém, possuem problematizações em comum. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O Cinema e a Encenação. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2008.
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