ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Prison Valley: o gênero documentário no ambiente das novas mídias |
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Autor | Euro Prédes de Azevêdo Júnior |
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Resumo Expandido | De acordo com a sua produtora, ‘Prison Valley’ é um web-documentário lançado em 22 de abril de 2010, que tem sua autoria creditada ao jornalista David Dufresne e ao fotojornalista Phillipe Brault e que foi produzido pela empresa de multimídia Upian, co-produzido e distribuído pela rede televisiva ARTE. Segundo a página inicial do produto, o webdoc tem como tema “uma cidade no meio do nada com 36 mil almas e 13 prisões, uma das quais é ‘Supermax’, a nova ‘Alcatraz’ da América. Uma cidade-prisão na qual mesmo os que vivem do lado de fora vivem do lado de dentro”. Focalizando essa região do estado norte-americano do Colorado chamada Prison Valley, o produto discute as relações entre aquilo que define como ‘indústria das prisões’ e o cotidiano das pessoas que vivem em seu interior e ao seu redor.
Porém, a despeito do que nos afirma sua produtora, uma primeira fruição de ‘Prison Valley’ faz surgir a pergunta: afinal, que tipo ou gênero de produto é este? Tal pergunta orientou boa parte do desenvolvimento desta análise, já que a primeira questão que se pôs foi exatamente a da falta de critérios mais bem-definidos para enquadrar Prison Vallley nas categorias de web-documentário, web-reportagem ou filme interativo. Se fosse um filme documentário, as metodologias existentes seriam suficientes para uma análise: poderíamos escolher uma análise contextual, que desse conta das questões sociais ao redor do filme; ou, quem sabe, uma análise imanentista, que estivesse atenta aos seus mecanismos internos de significação. Todavia, como se pode analisar um produto que, ao mesmo tempo, exige do seu fruidor competências de recepção características de um documentário e de um jogo de vídeo-game? Como é possível — se fôssemos fazer uma análise interna — nos referirmos a um momento específico de Prison Valley, se cada percurso fruitivo promove uma experiência singular do produto? Além disso, o pertencimento de Prison Valley ao ambiente das novas mídias suscita discussões muito contemporâneas sobre aquilo que Henry Jenkins chama de ‘cultura de convergência’ (2009); como falar deste produto sem considerar sua relação com as comunidades virtuais chamadas redes sociais? Como não pensar em Prison Valley como um ponto de convergência de diversos gêneros vindos do cinema, da televisão e do vídeo-game? Como não trazer à baila o fato de que nosso objeto de análise só existe por conta do desenvolvimento tecnológico dos últimos anos? Ou ainda, como não repensar o próprio estatuto de legitimidade do documentário — sua indexicalidade, sua relação com a realidade — enquanto representante (ou representação) do mundo histórico em que vivemos? Assim, optamos por desconsiderar uma análise imanente do produto, exatamente por conta de seu hibridismo genérico e da carência de produção teórica que embasasse um olhar interno à obra; preferimos compreender o produto através de um olhar não apenas textual, mas que dê conta também das questões que a atravessam. Buscaremos observar como se tensiona o gênero documentário, pensando exatamente em sua nova configuração no ambiente das novas mídias, se articulando com procedimentos dos games — mais especificamente, do gênero interactive movies. Consideraremos esses gêneros como categoria ‘cultural’, levando em conta, especialmente, as competências de recepção organizadas e postas em prática pelo produto, com vistas a ativar esta ou aquela noção de gênero no público. Dessa forma, pretendemos analisar a noção de gênero como estratégia de comunicabilidade, como dispositivo de leitura. Não se deseja aqui cair na velha e infértil dicotomia texto-contexto; é preciso frisar que este artigo trata da análise de um produto — um texto —, o que aponta, em certa medida, para uma análise textual; mas faz-se necessário afirmar que nenhum texto é independente, monológico, hermeticamente fechado e protegido contra a ‘contaminação’ por outros textos ou pela cultura que o produziu. |
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Bibliografia | BARREAU-BROUSTE, S. Arte et le documentaire. De nouveaux enjeux pour la création. Lormont, France, Le Bord De L'eau, 2011.
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