ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Um alguém apaixonado: o engajamento afetivo do espectador |
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Autor | Thalita Cruz Bastos |
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Resumo Expandido | Os novos realismos utilizam estratégias de engajamento do espectador que ultrapassam os limites da representação, são estratégias que trazem para dentro da obra elementos da realidade, seja através de experiências ou através de fatos documentais. Este ato de ir além dos limites da representação e promover um engajamento sensório-sentimental estabelece um outro tipo de relação entre filme-espectador. O Novo Cinema Iraniano é um exemplo desse novo realismo e está repleto de filmes que promovem no espectador um engajamento na realidade através do uso de alguns elementos que caracterizavam o neo-realismo italiano , como o uso de atores não-profissionais, cenários urbanos, temáticas cotidianas, o uso da câmera na mão. Entretanto, atualmente esta produção tem cada vez mais tensionado os usos de estratégias de realidade, que deixam de estar presentes apenas nas escolhas temáticas e estéticas, como também passam a fazer parte da estrutura narrativa.
O realismo afetivo é um dos exemplos de novo realismo que observamos na contemporaneidade. Nele procura-se criar um efeito de apego que recria uma determinada situação “real” dentro da obra. O movimento de recriar uma situação promove um engajamento sentimental no espectador, o que dilui a distância entre espectador e filme, e aproxima os sentimentos envolvidos no mesmo. A experiência afetiva promovida dessa forma coloca a obra/filme entre a vida e a arte, entre a arte e a realidade, na medida em que torna-se real e envolve o sujeito sensivelmente devido ao seu desdobramento no mundo vivido. Tal envolvimento está relacionado ao engajamento sentimental propiciado pelo filme. No que concerne o corpus desse trabalho, nossa proposta é analisar o filme “Um alguém apaixonado” (2012), de Abbas Kiarostami, focando naquilo que o filme desperta no espectador enquanto engajamento sensório-sentimental, devido tanto a forma abstrata de tratar as relações entre as pessoas e quanto os afetos que as atravessam. É um filme que se apresenta como uma parte extraída do mundo vivido, ele começa e termina sem muitas explicações, assim como a vida. É seu caráter de instante pinçado do mundo que nos interessa analisar tanto nas escolhas estéticas – camêra imóvel, planos-sequência -, como na própria estrutura da narrativa. É a combinação desses elementos que produz um filme que engaja afetivamente o seu espectador, não através de uma identificação com os personagens que compõem a narrativa, mas através das sensações e afetos que são construídos dentro da estrutura fílmica e emanam para o mundo. Nosso objetivo é compreender como esse tipo de produção, com um viés poético, promove um engajamento no espectador por aproximar a situação que está sendo mostrada na imagem das experiências do mundo vivido, produzindo um conjunto de sensações nesse espectador que são possíveis através da expressividade afetiva da obra. Para tal serão utilizadas as noções de afetos e perceptos desenvolvidas por Gilles Deleuze e Felix Guattari, de realismo afetivo de Karl-Erik Schollhammer, e ainda o uso de autores relacionados a virada afetiva a fim de analisar os desdobramentos das práticas afetivas realistas na produção contemporânea. |
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Bibliografia | BROOKS, Peter. Realist Vision. New haven – London, Yale University Press, 2005.
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