ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O Tropicalismo da trilha musical de Dez jingles para Oswald de Andrade |
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Autor | Natasha Hernandez Almeida Zapata |
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Resumo Expandido | O resgate da obra de Oswald de Andrade nos anos 1960 foi realizado, inicialmente, pelo grupo da Poesia Concreta, e, depois, pelo da Tropicália. Os manifestos oswaldianos, principalmente, serviram de base aos artistas tropicalistas, para retomar conceitos como o de “antropofagia”, tão fundamental ao movimento. Vários manifestos foram elaborados, e diversos produtores culturais declararam-se tropicalistas, demonstrando que o Tropicalismo ultrapassou as barreiras da música e do teatro e atingiu a literatura, o cinema, e as artes plásticas.
Décio Pignatari, que fora um dos fundadores da Poesia Concreta no país, percebeu, em 1971, a necessidade de realizar uma obra audiovisual que exaltasse a figura e a obra de Oswald de Andrade. Assim, surgiu o roteiro de Dez jingles para Oswald de Andrade, que deveria ser entregue ao grupo do Cineclube Universitário de Campinas, para se materializar em película. Tal roteiro, nitidamente, possui influência da experiência publicitária de Pignatari e do movimento da Tropicália. Pode-se dizer que o roteiro de Dez jingles para Oswald de Andrade contém as diretrizes fundamentais do curta-metragem. Publicado no livro Semiótica e literatura, do próprio Pignatari, o roteiro é dividido em dez partes (sequências), que representariam os dez jingles. A escolha de jingles provavelmente relaciona-se com a carreira publicitária de Pignatari, juntamente com as características da Poesia Concreta e a irreverência do próprio Oswald de Andrade. A trilha musical descrita nos créditos iniciais de Dez jingles para Oswald de Andrade é formada por composições originais de Damiano Cozzella e Rogério Duprat, e por trechos de “Eu ouço falar (Seu Julinho)”, de Sinhô; “O cisne”, de Camille Saint-Saëns; “Celle qui parle trop”, de Erik Satie; e “Tannhäuser”, de Wagner. “Eu ouço falar (Seu Julinho)” não consta no roteiro e “Celle qui parle trop” foi a peça integrante de “Chapitres tournés en tous sens” escolhida, pelo fato de haver sido a única gravação encontrada durante o processo de montagem. Segundo o diretor do filme, a vontade era de se fazer um filme tropicalista. Desde o roteiro de Décio Pignatari até o resultado final, o que se detecta são manifestações de caráter assumidamente tropicalista. Com a trilha musical do curta, especificamente, não é diferente. Analisando-se a diversidade de músicas utilizadas, populares ou eruditas, é possível inserir a trilha no conceito de “geleia geral” da cultura brasileira, expressão criada pelo próprio Pignatari que se transformou em título da canção de Torquato Neto e Gilberto Gil. A geleia geral apresentava-se na forma de um país cuja sociedade dividida e contraditória vivia no limiar da modernidade, mas ainda presa à tradição. Além disso, partindo do conceito de “alusão” (allusion), uma espécie específica de citação (quotation), defendido por Anahid Kassabian, é possível uma tentativa de entendimento da escolha de determinadas músicas para Dez jingles. Segundo Kassabian, “alusão [allusion] em uma trilha musical é um tipo particular de citação, ou seja, uma citação utilizada para evocar uma outra narrativa”. Em Dez jingles, notamos que as músicas citadas, e mesmo as imagens, trazem consigo algo que Kassabian chamaria de “narrativa prévia”, ou seja, uma narrativa cheia de seus próprios significados, que acrescenta mais possibilidades de interpretação ao filme. Se analisada paralelamente às imagens, a trilha musical traz uma nova gama de significados, que pode reafirmar o que é visto na tela ou com isso se confrontar. Pretende-se, assim, estudar a trilha musical de Dez jingles, entendendo suas características tropicalistas. Analisando-se cada uma das músicas presentes no curta metragem, e sua carga de significado prévia a sua utilização no curta metragem, se torna possível pensar sobre os motivos que levaram à escolha de determinadas obras, bem como sua importância para o filme como um todo. |
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Bibliografia | ANDRADE, Oswald de Andrade. O perfeito cozinheiro das almas deste mundo. São Paulo: Globo, 1992.
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