ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A contemporaneidade portuguesa na perspectiva documental |
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Autor | Wiliam Pianco dos Santos |
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Resumo Expandido | Visamos empreender uma análise que permita a compreensão do discurso de três documentários portugueses: Lisboetas (Sérgio Tréfaut, 2004), Um pouco mais pequeno do que o Indiana (Daniel Blaufuks, 2006) e Visita guiada (Tiago Hespanha, 2009). Seremos orientados a partir de duas problemáticas complementares: (1) verificar quais são as estratégias narrativas adotadas por esses filmes ao abordarem a história recente de Portugal; (2) avaliar em que medida tais estratégias se relacionam com as perspectivas de certa literatura dedicada às problemáticas políticas, sociais, culturais e históricas da nação portuguesa na contemporaneidade.
Partimos da hipótese de que tais obras promovem representações nacionais de modo a criticarem o modelo eurocêntrico de compreensão histórica, correspondendo, assim, ao processo adotado por diferentes vertentes das Ciências Sociais nas últimas décadas, alinhando-se aos propósitos do multiculturalismo policêntrico. Não obstante o fato de o corpus proposto ser constituído por documentários realizados na última década, outras características dão ao conjunto um caráter de unidade. Por exemplo, seus realizadores optam por trabalhar com o registro de diferentes episódios utilizando o artifício da viagem através da geografia portuguesa. Esse aspecto ganha relevância porque implica um esforço dos documentaristas na compreensão do espaço português como uma configuração a ser esclarecida, fugindo de individualidades específicas. Assim, abordagens sobre a globalização e a transculturação como o resultado do contato de diferentes povos e culturas nos espaços percorridos pelos cineastas ganham destaque nos filmes. Com isso, é pertinente a hipótese de que o referido corpus lança mão de discursos que rompem com certa tradição de cunho mítico acerca da constituição de Portugal como nação, promovendo, desse modo, uma crítica ao eurocentrismo. Lisboetas percorre a cidade de Lisboa observando diversos imigrantes que compõem a paisagem urbana da capital portuguesa. Nesse percurso, Tréfaut indica preocupações tais como vagas de imigração, mercado de trabalho, direitos humanos, cultos religiosos, idiomas e identidades. Existe a clara preocupação em se revelar um espaço fortemente caracterizado pela transculturação: vindos de várias partes do mundo, milhares de homens e mulheres chegam a Portugal na expectativa de um futuro melhor. Lisboetas apresenta-se como um instigante material de estudo para aqueles interessados em debater o papel exercido pela nação portuguesa nos âmbitos europeu e mundial dentro do contexto de um mundo globalizado. Em Um pouco mais pequeno do que o Indiana, Daniel Blaufuks empreende uma travessia de carro pelo território português. A viagem ocorre no ano de 2004, pouco tempo depois do término da Eurocopa, campeonato de futebol sediado em Portugal naquele ano. Em seu projeto, Blaufuks parte de dois interesses: primeiro, verificar as mudanças decorridas em um país até pouco tempo unido pela noção de patriotismo e que, mais uma vez, retorna ao estado de apatia, como propõe o realizador; o segundo interesse tem origem no resgate de uma memória coletiva: em posse de diferentes cartões postais, ele estabelece comparações entre os registros de imagens fixas e as imagens em movimento que sua câmera vai revelando no percurso. No entanto, o que o filme deixa transparecer é uma paisagem em constante mutação, diferente da que tinha gravada em sua memória e nos postais de outrora. Visita guiada acompanha o percurso de centenas de turistas que chegam a Portugal e são acompanhados por guias-intérpretes incumbidos de os orientar por entre monumentos, castelos, paisagens, em suma, referenciais míticos da fundação da nação portuguesa. O interesse de Hespanha parece centrado na possibilidade de questionar o discurso forjado em torno da construção e leitura da identidade portuguesa mediante uma perspectiva eurocêntrica de registro histórico. |
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Bibliografia | ANDERSON, B. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem. Lisboa: Edições 70, 2008.
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