ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | A imagem sonora em "Gerry" de Gus van Sant. |
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Autor | Nelson Pinton Filho |
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Resumo Expandido | Gerry é o primeiro filme da trilogia da morte que compreende "Elephant" e Last Days. Gerry é singular na trilogia pois não utiliza inserções de paisagens sonoras (os fonogramas autorais da compositora Hildegard Westerkamp) em sua composição. Gerry é um filme árido que evoca a plenitude, a imensidão e a busca exaustiva por uma saída. Conta com dois personagens homônimos que encontram-se perdidos e percorrem incessantemente um território aparentemente sem fim. O diálogo entre eles é escasso e não informa uma construção narrativa determinante. A ausência dos diálogos potencializa a construção e a formação de uma condição “óptico-sonora” pura, sendo assim, a construção sonora tende a reconstruir e cobrir estes grandes "espaços vazios”. Com estas preocupações podemos refletir e questionar pontos de formação do discurso aural em Gerry. Como construir uma imagem sonora que evoque grandes espaços e vazios? Como obter tensões sonoras sem afetar a poética do filme? Como a música de Arvo Pärt foi inserida sem causar uma instabilidade no discurso dos sons? Estas questões precisavam de uma resposta mais técnica, que pudessem aproximar ou esclarecer o processo criativo concebido pelo sound designer Leslie Shatz.
Tendo como meta obter dados e respostas mais específicas, foi preciso conceber uma ferramenta de observação de campo sonoro. O processo consiste em observar a mixagem do filme, extrair suas freqüências (índice de altura musical) e sua intensidade (dinâmica musical) sobre um determinado tempo. Esta ferramenta possibilita uma "escuta-visualizada" dos elementos presentes na banda sonora. Com ela é possivel acompanhar visualmente o estado aural do objeto de estudo e ajuda a comprovar algumas teorias sonoras sobre filmes. Adentramos desta forma no trabalho de “foley” de Andy Malcolm e Goro Koyama (“Footsteps pos production sound inc.”), no “soundscape” e texturas de Shatz e na música de Pärt. Observamos a legitimação do “contrato-audiovisual”, da presença de um contraponto, onde os sentidos são levados por cognição a compreender informações visuais e sonoras que influenciam-se mutuamente, por contaminação ou projeção. Ao extrair e entender os resultados que esta ferramenta de análise propicia, podemos "olhar" para pontos específicos do discurso sonoro, que ora enfatiza e ora desvia (dissocia) a atenção visual do espectador. Esta analise de ordem acusmática faz parte da pesquisa de doutorado (em andamento) que contempla os filmes da “trilogia da morte” do diretor Gus van Sant. |
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Bibliografia | Chion, Michel. “Wasted Words.” In: Sound Theory, Sound Practice, por Rick Altman. New York: Routledge, 1992.
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