ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Desdobramentos lúdicos do signo tecnológico |
|
Autor | Guilherme Henrique de Oliveira Cestari |
|
Resumo Expandido | Este artigo pretende identificar e problematizar relações semióticas entre imagens vinculadas em apresentações dos grupos de música eletrônica Kraftwerk (especificamente nos estímulos audiovisuais concernentes à canção Radioactivity) e The Chemical Brothers (em especial, no que se refere à aparição da imagem de um palhaço durante o show); busca compreender de que maneiras, no processo de semiose, podem se constituir figuras de linguagem fundantes de espaços oníricos, místicos, ritualísticos e ideológicos. Na metrópole, tecnologia e virtualidade transpassam diversão e expressão, inaugurando ambientes híbridos e atualizando conceitos relativos à estética, ética e lógica. Corpo e consciência redescobrem-se quando, durante uma performance videográfica espetacular, encontram-se iluminados pelo signo ubíquo e eletrificado que emana de um écran panorâmico. A classificação antropológica dos jogos (CAILLOIS, 1990) e a noção peirceana de signo (SILVEIRA, 2007 e COELHO NETTO, 2010) contribuirão para constituições genealógicas (PETERS, 2000) acerca dos prováveis efeitos do signo tecnológico sobre os interlocutores.
Dado o impacto energético e carnavalesco de suas exibições, Kraftwerk e The Chemical Brothers concebem, com auxílio de diagramas multissensoriais, efervescentes tramas de significação; tais percursos – interferências lúdicas, catárticas, alineares e reticulares –, voltados majoritariamente ao entretenimento, supõem, também, posicionamento e atuação políticos. Imagens manejadas durante os shows valorizam máscara (imitação, maquiagem, disfarce, mimicry) e transe (vertigem, subversão perceptiva, alucinação, delírio, ilynx); são componentes da estética e da lógica urbanas, portadores de um paradigma estroboscópico, disperso, fugidio, fractal, fragmentado, eminentemente efêmero e abstrato. Em jogos linguísticos, o signo atua como portador do inesperado. A partir da descrição e análise de imagens publicizadas nas apresentações dos músicos, iniciam-se diálogos entre potencialidades e singularidades de cada performance; estabelecem-se pontos de encontro, cartografias do vídeo luminoso e poluente, que seduz, envolve e ambienta; grafos para uma teoria acerca das possíveis sintaxes inerentes às projeções telemáticas. Kraftwerk canaliza o uso de códigos especialistas e convenções técnicas para uma cena de entretimento. Por outro lado, a maquiagem-máscara clownesca de The Chemical Brothers, aparentemente avessa a tecnicismos, é marca do festejo popular. As estruturas de ambas as performances priorizam a projeção audiovisual à expressividade corporal dos artistas, que, junto ao público, encontram-se diminutos diante da tecnologia eminente. O que se projeta nos shows não são imagens últimas, acabadas, mas, de certo modo, ficções figurais que se encontram em contínua reformulação, infindáveis composições cujos mecanismos de funcionamento não operam cartesianamente. A montagem constitui uma forma sugestão, de condução do olhar e do pensamento; a partir da tela, dos holofotes e das caixas de som, as imagens projetam-se na mente dos participantes. O fluxo de virtualidades contamina a percepção, embasando comportamentos fetichizados. Com volume alto, as vibrações sonoras possuem desdobramentos táteis, o deslocamento das ondas é sentido na pele e mesmo pelos órgãos internos. Entre interesses e variações expressivos, projetuais e pecuniários, The Chemical Brothers e Kraftwerk fazem política por meio de escolhas estéticas; esforçam-se para compor simulacros e imaginações circunjacentes e generativos; para que identidades cíbridas produzam experiências singulares; para que iniciativas poético-tecnológicas propaguem-se e difundam-se a ponto de produzirem inovadores padrões de fruição estética. Uma imagem, dada a vibração do signo, possui variadas ressonâncias, infinitos desdobramentos, e pode, também, em conjunto com outras imagens e aparelhos, reconfigurar olhares, corpos e condutas. |
|
Bibliografia | BUSSY, Pascal. Kraftwerk: man, machine and music. Wembley: SAF Publishing, 1993.
|