ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Uma leitura cinematográfica de "Infância em Berlim por volta de 1900" |
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Autor | Fabiano Grendene de Souza |
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Resumo Expandido | As relações entre Walter Benjamin e o cinema são vastas e complexas. Sem querer dar conta deste universo, pode-se lembrar que o pensamento do autor inclui abordagens que refletem a possibilidade do cinema radiografar as transformações da vida moderna e documentar o surgimento de ícones globais (SHÖTTKER, 2012). Mas as reflexões de Benjamin também podem ser vistas como mola propulsora de debates posteriores: a tese sobre a origem do drama barroco alemão (BENJAMIN, 1984) está no cerne das exegeses sobre a alegoria no cinema (XAVIER, 1993), e as investigações sobre fotografia (BENJAMIN, 1992) aparecem como fundamentais na querela sobre a condição “post-medium” (KRAUSS, 1999).
Nesse contexto amplo, nosso estudo procura inverter a lógica corrente da relação entre Walter Benjamin e o cinema. No caso, a proposta visa elaborar uma leitura cinematográfica de um texto ensaístico-ficcional do autor. Escrito durante os anos 1930, "Infância em Berlim por volta de 1900" (1987) mostra Benjamin, já adulto, voltando à Berlim da sua infância, em uma narração que mistura memória e apontamentos sobre as mudanças sociais. A leitura cinematográfica aqui proposta busca, em um primeiro instante, evidenciar os momentos do texto de Benjamin que incorporam procedimentos nitidamente cinematográficos. Tal análise é inspirada em Sergei Eisenstein (2002) e seu exame de obras literárias. Por exemplo, ao enfocar "Bel Ami" (1885), de Guy de Maupassant, o teórico russo faz menções às possíveis posições de câmera originadas da forma com que o contista descreve as doze batidas de um relógio. Em “Infância em Berlim”, além de concepções de decupagem, surge um viés cinematográfico na maneira com que Benjamin descreve os figurinos, os objetos, os cenários, criando uma atmosfera calcada em uma dimensão audiovisual. Essa dimensão audiovisual parece evocar procedimentos particulares de filmes que, posteriormente, trabalharam a relação entre infância e memória. Em "Infância em Berlim", a descrição de uma manhã de inverno traz à mente a neve de "Cidadão Kane" (Citzen Kane, Orson Welles, 1941); a observação de fotografias pode ser associada a "La Jetée" (Crhis Marker, 1962); a alusão a uma esfera sonora subjetiva faz lembrar "Garotos de Programa" (My Own Private Idaho, Gus Van Sant, 1991); e a percepção oscilante das cores pode ser comparada àquela de "Spider" (David Cronenberg, 2002). Na comunicação apresentada, pretende-se propor um diálogo do texto de Benjamin com dois outros filmes que, além de trazerem a relação entre memória e infância, abordam a questão da viagem e do retorno (ao passado e a um lugar): "Porto da Minha Infância" (2001), de Manoel de Oliveira, e "Um olhar a cada dia" (To Vlemma tou Odyssea, 1995), de Theo Angelopoulos. No filme de Manoel de Oliveira, nos interessa principalmente as oscilações: as relações entre o material de arquivo em preto-e-branco e as encenações filmadas a cores; a complementaridade entre presente e passado; a infância colocada ao lado da maturidade, com a ajuda da narração feita pelo próprio diretor. Já na película de Theo Angelopoulos, nos preocupa a abstração do tempo, a união de momentos cronologicamente distantes em um mesmo plano; e o amálgama entre a realidade histórica e a vida privada. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. A Origem do Drama Barroco Alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
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