ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | Glauber Rocha e a recepção crítica francesa de cinema nos anos 1960 |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Glauber Rocha (1939-1981), cineasta e um dos grandes representantes do Cinema Novo no Brasil, fez um percurso singular dentro do campo cinematográfico que ultrapassou, em larga escala, os debates de interesse estritamente nacional. Já em meados dos anos 1960, quando da oportunidade de lançamento de Deus e o Diabo na Terra do Sol, na Europa, o jovem cineasta brasileiro estreitou laços com críticos prestigiados e com cineastas que representavam a fração mais consagrada do cinema moderno europeu. Seus filmes foram vistos por críticos estrangeiros de diferentes linhagens, ganhando, de imediato, uma repercussão de caráter internacional nunca antes vista por outro cineasta brasileiro.
Somado aos seus filmes, reconhecidamente, de grande impacto para o público europeu, o personagem Glauber soube, como nenhum outro artista brasileiro do período, transpor e fazer circular sua voz e suas ideias entre os artistas e intelectuais mais importantes nos anos 1960, na Europa. Especificamente, na França, Glauber ganhou uma ampla recepção crítica e seus filmes puderam notabilizar fama e prestígio: vários críticos de revistas especializadas – a se destacar Cahiers du Cinéma e Positif – transformaram-se em defensores do cineasta brasileiro e os seus veículos em porta-vozes das ideias vindas do hemisfério Sul. Ainda que alguns estudos de caráter mais biográfico ou de análise da crítica cinematográfica do período (FIGUEIRÔA, 2004; VALENTINETTI, 2002; GOMES, 1997) já levantassem elementos para uma parcial compreensão dessa importante atuação em nível internacional do cineasta brasileiro, a caracterização e a análise mais justa desse intenso processo de sociabilidade entre Glauber e os críticos franceses só se concretizaria, sob nossa perspectiva, com o acesso ao material inédito depositado nos arquivos europeus. Nesse horizonte de preocupações, este trabalho de pesquisa, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), delimitou um objetivo bastante pontual: com um levantamento documental e bibliográfico em três grandes acervos franceses (Bibliothèque Nationale de France, La Cinémathèque Française e Bibliothèque du cinéma François Truffaut), na cidade de Paris, buscou-se analisar a recepção crítica na França, no final dos anos 1960, de dois filmes de Glauber Rocha – Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe –, que obtiveram boa circulação no universo dos cinéfilos de Paris. Para o estudo dessa recepção crítica francesa, a pesquisa de caráter documental concentrou-se em duas tipologias de materiais: (1) as revistas especializadas de cinema de grande circulação, em que se destacam duas delas: Cahiers du Cinéma e Positif; e (2) as revistas de menor circulação e publicadas por órgãos representativos do campo cinematográfico francês ou por cineclubes, a saber: Cinéma, Jeune Cinema, Image et Son, entre outras. Com a leitura do material levantado, foi possível delinear e mapear, de forma mais precisa, as estratégias que compunham as formas de sociabilidade adotadas entre o cineasta baiano e os grupos de intelectuais franceses, nos anos 1960. Dito de outro modo, a aliança entre Glauber Rocha e a crítica francesa de cinema dessa época sugerem, ao estudioso do cinema nacional brasileiro, uma importante seara de estudos: trata-se de um intercâmbio cultural invulgar, próprio ambientação e da conjuntura dos anos 1960, tanto por parte da intelectualidade francesa de então, como por parte dos intelectuais brasileiros de esquerda, sobretudo os do nosso cinema. |
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Bibliografia | AGNES, Guy; HENNEBELLE, Guy. Les revues de cinéma dans le monde. Paris: Télérama, 1993.
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