ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | 'Cinemas de estação' do circuito Caruso no subúrbio da Leopoldina |
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Autor | Talitha Gomes Ferraz |
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Resumo Expandido | Nas duas primeiras décadas do século passado, as reformas das zonas centrais do Rio de Janeiro excluíram do cenário as moradias das classes pobres. Concomitantemente, iniciou-se, em grande medida, a ocupação urbana da parte norte da cidade, região à época praticamente rural, cortada pelas linhas ferroviárias Central do Brasil, Leopoldina, Auxiliar e D’Ouro. Os arrabaldes, depois designados como subúrbios, receberam influxos populacionais, sem haver, no entanto, ações governamentais de fôlego que os proporcionassem uma infraestrutura adequada. Assim, esses espaços se tornaram “uma paisagem caracterizada principalmente pela ausência de benefícios urbanísticos” (ABREU, 2008, p. 82).
Ao contrário das áreas nobres do Rio (Centro, Grande Tijuca e alguns pedaços da zona sul), os subúrbios ferroviários ficaram desguarnecidos de obras que efetivassem a sua estruturação como pólos urbanos bem equipados. Os bairros situados ao longo da Leopoldina Railway – como, por exemplo, Ramos, Olaria, Penha e Brás de Pina – contaram menos ainda com conveniências urbanas e equipamentos coletivos pujantes, se os compararmos com os bairros suburbanos estabelecidos à beira da linha de trem da Central do Brasil, mais desenvolvidos. Deste modo, driblando o “descuido estatal” no aparelhamento do espaço urbano suburbano, a iniciativa privada empreendeu algumas ações nessas regiões em âmbitos variados da vida social. Foi em presença dessa situação que se destacou a figura de Domingos Vassalo Caruso, personalidade que, na história da Zona da Leopoldina, foi peça essencial para a ocupação das ruas leopoldinenses, estando ao seu cargo ainda a organização de um profícuo circuito exibidor independente na região. Conforme é exposto no livro de Alice Gonzaga (1996, p. 117), a “omissão do poder público deu ensejo a outras iniciativas particulares, como a do exibidor Domingos Vassalo Caruso”. Por intermédio do comerciante, “procedeu-se à abertura de ruas, instalação de iluminação pública e até mesmo cobertura asfáltica, o que certamente valorizava os negócios e principalmente os cinemas” (Idem). Domingos Vassalo Caruso começou a sua trajetória no braço exibidor carioca em 1919, com o Cinema Elegante. Na medida em que conseguia capital, seus negócios cinematográficos na Zona da Leopoldina consolidavam-se por meio da inauguração de “cinemas de estação”, ou seja, casas exibidoras instaladas ao longo da ferrovia (CAIAFA e FERRAZ, 2012). Suas atividades comerciais ocorreram aproximadamente até o seu falecimento na década de 1950, contando geralmente com a parceria de seu irmão, Luis Vassalo Caruso. Incluíam-se também outros sócios na composição acionária dos cinemas, além da forte participação de Nelson Cavalcanti Caruso, sobrinho de Domingos, que deu sequência aos negócios. Consórcios, quebras de acordos e articulações políticas e mercadológicas com demais exibidores acompanharam o curso de vida dos cinemas da família Caruso, sobrenome de alta estima para a “exibição independente” (GONZAGA, 1996; MELO, 2012). Diante desse quadro, este trabalho investiga de que forma as atividades comerciais cinematográficas de Domingos Vassalo Caruso, e família, empreenderam a estruturação de um relevante circuito exibidor – com cerca de 10 cinemas de rua (abertos e reabertos sob novos nomes), dispostos em frente ou muito próximos às estações de trem de bairros da Leopoldina – e a própria organização espacial das ruas do subúrbio leopoldinense. Conjuntamente, analiso como o cinema, "equipamento coletivo de lazer" (FERRAZ, 2012), se colocou como vetor de ocupação urbana, “marco referencial” (JACOBS, 2000) e agente promotor de práticas de sociabilidade nesses locais. |
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Bibliografia | ABREU, Maurício de. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, IPP, 2006.
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