ISBN: 978-85-63552-14-3
Título | O fantasma do feminismo na filmografia das cineastas portuguesas: Um efeito da obra, não assumido como princípio |
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Autor | Ana Catarina Pereira |
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Resumo Expandido | Falar de cinema português no feminino é analisar uma breve mas interessante história das mulheres que inverteram os tradicionais papéis de “actriz filmada por um realizador”, assumindo, elas próprias, o comando do olhar por detrás das câmaras. Desde o aparecimento do cinema até ao final da primeira década do século XX, 40 ficções de longa-metragem foram dirigidas por mulheres, em Portugal. A primeira delas, Três dias sem Deus, de Bárbara Virgínia, data de 1946, sendo o primeiro e único filme realizado por uma mulher durante o período ditatorial do Estado Novo (1932-1974).
A segunda longa-metragem de ficção – Trás-os-Montes - data já de 1976 e é uma co-realização de Margarida Cordeiro e de António Reis. Para além destas, até ao final de 2009 seriam realizadas mais 38 longas-metragens. A primeira década forte, em termos de produção, seria a de 80, quando se destacam os nomes de Monique Rutler, Solveig Nordlund e Margarida Gil. Nos anos seguintes surgem os primeiros trabalhos de Teresa Villaverde, sendo que, na primeira década de 2000, são realizados metade dos 40 filmes que constituem o corpus deste estudo: 20 longas-metragens datam, deste modo, do início do século XXI, quando se destacam os nomes de Catarina Ruivo, Cláudia Tomaz e Raquel Freire. O propósito desta apresentação será perceber, após uma breve apresentação generalista, se será possível identificar uma consciência feminista em algumas destas realizadoras, nomeadamente nos casos de cineastas que dirigiram obras com este carácter: Solo de violino (Monique Rutler, 1992), Aparelho voador a baixa altitude (Solveig Nordlund, 2002) e Daqui p’ra frente (Catarina Ruivo, 2008). Esta sustentação será realizada recorrendo a estudos de género e a diferentes teorias feministas do cinema, enquanto defensoras de uma produção artística feminina, como forma de sustentação de uma identidade própria. Sendo o olhar do espectador, como Laura Mulvey sugeriu, pressupostamente masculino, treinado por realizadores com fantasias e tendências voyeuristas homogéneas, a questão seguinte seria, para nós, inevitável: poderá este mesmo olhar assumir características distintas, quando mediado por uma mulher? Poderá a arte, ao contrário dos anjos, ter sexo? Existirá, neste sentido, uma “estética feminina”? Procurá-la não implicará um aprofundar de estereótipos associados à feminilidade e à masculinidade, todos eles redutores, segundo o ponto de vista de Michel Foucault e Judith Butler, bem como a atribuição de um certo carácter de exotismo, pela falta de representatividade nos circuitos artísticos? Por outro lado, Iris Young considera que insistir na generalização forçada da conceptualização “ser mulher” tem como principal consequência o reforço dos privilégios “daqueles que mais beneficiam mantendo as mulheres divididas” (Young, 2004: 118, 119), para além de retirar consistência às políticas feministas. No seu entender, esta consciencialização é fundamental para que se proceda a uma conceptualização da opressão como um processo sistemático, estrutural e institucional. Neste sentido, e consciente dos obstáculos já enumerados, a autora propõe que, em vez de grupo ou colectivo, se utilize o conceito “serialidade”, desenvolvido por Sartre em Crítica da razão dialéctica, para referência futura a um conjunto potencialmente infinito de mulheres. Na sua opinião, o género encarado como uma série social - um tipo específico de colectividade que Sartre distingue dos grupos – tem como principais vantagens não exigir uma partilha de atributos, interesses, objectivos, contexto ou identidade. Conceitos que se encontram presentes nos três filmes mencionados e que aprofundaremos na apresentação. Buscar esta mesma estética será antes reconhecer a possibilidade de uma troca de experiências (noção tão cara aos estudos sobre mulheres por englobar, em si, subjectividade, sexualidade, corpo, educação e política), e a partilha de uma estrutura prático-inerte, essa sim, comum a todas as mulheres. |
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Bibliografia | Butler, J. (1999). Gender trouble – feminism and the subversion of
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